Planeta Terra Planeta Terra  Editorial

Salvar a Criação

Num período histórico em que "estamos diante de um desafio cultural a favor ou contra o bem comum", o Papa pede um "diálogo honesto e fecundo".

Silvonei José - Cidade do Vaticano

"A aceleração contínua das mudanças que afetam a humanidade e o nosso planeta, unida hoje a um ritmo mais intenso de vida e de trabalho, deveria nos levar constantemente a nos perguntarmos se os objetivos destes progressos são verdadeiramente orientados para a bem comum e em direção de um desenvolvimento humano sustentável e integral, ou se causam danos ao nosso mundo e à qualidade de vida da maior parte da humanidade, agora e no futuro". Foi o que escreveu nos dias passados o Papa Francisco em sua mensagem aos participantes do XXXI Encontro das Partes ao Protocolo de Montreal que se realizou em Roma. A mensagem foi lida no decorrer do encontro pelo Secretário de Estado Pietro Parolin.

Para o Papa é necessário antes de mais nada dar vida realmente ao diálogo para o bem comum.

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Seguindo as pegadas indicadas e sugeridas pela encíclica Laudato si, o Papa Francisco  na sua mensagem aos participantes do Encontro sobre substâncias que danificam a camada de ozônio, na sede da FAO em Roma destacou três lições que, segundo ele, podem ser aprendidas "dos trinta e cinco anos da implementação do regime internacional para o ozônio":

Em primeiro lugar, há que salientar e reconhecer que este regime foi o resultado de uma ampla e frutuosa cooperação entre diferentes setores: a comunidade científica, o mundo político, os atores econômicos e industriais e a sociedade civil. Esta cooperação mostrou como podemos "alcançar resultados importantes, que ao mesmo tempo tornam possível salvaguardar a criação, promover o desenvolvimento humano integral e cuidar do bem comum, num espírito de solidariedade responsável e com profundas repercussões positivas para as gerações presentes e futuras ".

Demonstração de que a "liberdade humana" é, portanto, "capaz de limitar a tecnologia, orientá-la e colocá-la a serviço de outro tipo de progresso, mais saudável, mais humano, mais social e mais integral". Francisco nos convida a ter confiança, esperando que "a humanidade do início do século XXI possa ser recordada por ter assumido generosamente suas graves responsabilidades".

Num período histórico em que "estamos diante de um desafio cultural a favor ou contra o bem comum", o Papa pede um "diálogo honesto e fecundo".

Aqui, um diálogo honesto e fecundo, verdadeiramente capaz de escutar as diferentes necessidades e livre de interesses particulares, junto com um espírito de solidariedade e criatividade, são essenciais para a construção do presente e do futuro do nosso planeta.

Da mesma forma, porém, o desafio cultural deve ser enfrentado considerando que a tecnologia "sozinha" não é a única resposta.

Este desafio cultural não pode ser enfrentado apenas com base numa tecnologia que, pretendendo ser "a única solução para os problemas, não é de fato capaz de ver o mistério das múltiplas relações que existem entre as coisas e, por isso, resolve por vezes um problema criando outros.

Fundamental, escreve ainda o Papa em sua Mensagem, que uma nova Emenda ao Protocolo de Montreal seja adotada, a de Kigali de 2016. Fundamental, explica Francisco, como "destinado a proibir substâncias" que "afetam o aquecimento da atmosfera". Daí a necessidade "de que a Emenda de Kigali obtenha rapidamente a aprovação universal de toda a família das nações" e o consequente anúncio pelo próprio Papa da intenção da Santa Sé de aderir à nova Emenda.

Para o Papa Francisco essa Emenda apela ao princípio de que "o cuidado da nossa casa comum" está ancorado na consciência de que "tudo está conectado". Portanto, para enfrentar o período histórico atual, o Papa sugere estratégias para difundir uma "cultura de fato orientada para o bem comum".

Em síntese, é necessário um diálogo em que ninguém "absolutize" o seu ponto de vista; é necessário tornar as soluções tecnológicas parte de uma visão mais ampla que tenha em conta a variedade das relações existentes e, finalmente, estruturar as nossas decisões a partir do conceito central de uma "ecologia integral, baseada na consciência de que tudo está conectado: essa é a resposta indicada pelo Pontífice para o nosso tempo tão complexo e exigente, mas orientado para um caminho sempre estimulante.

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09 novembro 2019, 08:00