Cardeais Miguel Ángel Ayuso Guixot e Jean Louis Tauran Cardeais Miguel Ángel Ayuso Guixot e Jean Louis Tauran 

Cardeal Guixot: Jean-Louis Tauran, homem de diálogo

“Identidade, alteridade e sinceridade.” Essas são as três características do diálogo inter-religioso promovido pelo cardeal Tauran nos onze anos em que guiou o Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso.

Cidade do Vaticano

O cardeal Jean-Louis Tauran foi lembrado num encontro realizado, na tarde desta quinta-feira (16/01), na Universidade Católica do Sagrado Coração de Milão, Itália. O purpurado francês nasceu em Bordeaux, em 5 de abril de 1943, e faleceu em Connecticut (EUA) em 5 de julho de 2018.

“Identidade, alteridade e sinceridade.” Essas são as três características do diálogo inter-religioso promovido pelo cardeal Tauran nos onze anos em que guiou o Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso.

O seu sucessor, à frente do dicastério, cardeal Miguel Ángel Ayuso Guixot, lembrou o purpurado na conferência realizada em Milão. Depois da saudação do reitor, Franco Anelli, que delineou a figura e o trabalho do cardeal francês, tomaram a palavra também Wael Farouq, professor de língua e literatura árabe, e Muhammad Bin Abdul Karim Al-Issa, secretário-geral da Liga Mundial Muçulmana, na vanguarda da construção de relações positivas entre o Islã e o Catolicismo.

Imenso compromisso e responsabilidade 

Reconstruindo “o imenso compromisso e responsabilidade que marcaram o serviço eclesial” de seu predecessor, o cardeal Ayuso Guixot elogiou sua “sagacidade e preparação” e sua “diplomacia fina”, segundo o jornal da Santa Sé L’Osservatore Romano.

O resultado foi um retrato afetuoso, cheio de lembranças pessoais daquele que, depois de seis anos como seu colaborador estreito como secretário do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, foi chamado a retomar seu legado.

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Para entender melhor a personalidade e a ação do cardeal Tauran em favor do diálogo entre pessoas de diferentes religiões, o relator esboçou uma breve biografia: dos estudos na Pontifícia Academia Eclesiástica ao serviço nas nunciaturas na República Dominicana e no Líbano (durante os terríveis anos da guerra civil) e na Seção das Relações com os Estados da Secretaria de Estado (da qual tornou-se secretário); até as nomeações como arquivista e bibliotecário da Santa Romana Igreja, e depois presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso e camerlengo; sem esquecer o anúncio feito por ele, como protodiácono, do Habemus papam no momento da eleição de Francisco ao pontificado.

Colaborador precioso e estimado por todos

“Colaborador precioso e estimado por todos” os bispos de Roma, “aos quais ele serviu”, o cardeal Tauran “marcou profundamente a vida de toda a Igreja”, explicou o cardeal espanhol, citando as palavras do Papa Francisco que, em 12 de julho de 2018, participou das exéquias “permanecendo, desde o início, ao lado do caixão durante o rito”. “Não é um fato usual”, disse o cardeal Ayuso Guixot. Em outras ocasiões, o pontífice fez gestos ou pronunciou palavras de afeto e estima pelo cardeal de Bordeaux. Por exemplo, em 31 de outubro, quando inaugurou a mostra “Caligrafia para o diálogo”, na Universidade Lateranense, o indicou como “construtor de paz” cuja “vida foi totalmente projetada na perspectiva do diálogo, sobretudo com Deus que o cristão, sacerdote e bispo Tauran cultivou e onde encontrou conforto durante a doença”.

Em segundo lugar, no “diálogo entre os povos, governos e instituições internacionais ao qual o diplomata Tauran se prodigalizou, favorecendo a conclusão de acordos, mediações ou propondo soluções, até mesmo técnicas, para conflitos que ameaçavam a paz, limitavam os direitos humanos e ofuscavam a liberdade de consciência. Por fim, no “diálogo entre as religiões”, ao qual se dedicou “não para reafirmar os pontos em comum, mas para buscar e construir novos”, fazendo “entender que não basta se deter no que aproxima, mas é necessário explorar novas possibilidades para que as diferentes tradições religiosas possam transmitir, além de uma mensagem de paz, a paz como mensagem”.

O cardeal Ayuso Guixot também revelou algumas mensagens de condolências enviadas ao Pontifício Conselho pela morte de Tauran. “Além dos que participaram do funeral”, disse ele, “muitas pessoas de outras religiões quiseram prestar homenagem ao homem apreciado por sua sinceridade, coragem e abertura”. Dentre eles, o Grão Imame de al-Azhar escreveu uma mensagem, definindo-o “um religioso que deu uma grande contribuição na promoção da cultura da compreensão recíproca”.

Forte na fé, no testemunho e no desejo de dialogar

Por fim, o pensamento do cardeal comboniano foi para a última viagem realizada juntos, a Riad, em abril de 2018, considerado o “testamento espiritual” de Tauran. “Tenho diante de meus olhos”, confidenciou Ayuso Guixot, “a imagem do cardeal: frágil no corpo, mas forte na fé, no testemunho e no desejo de dialogar. As palavras de São Paulo na Segunda Carta aos Coríntios me vieram à mente: “A minha força se manifesta plenamente na fraqueza...”. De fato, sua presença na Arábia Saudita foi muito apreciada. Uma viagem um tanto especial, no berço do Islã, que Tauran desejava fortemente fazer: ele estava sempre convencido de que as boas relações entre cristãos e muçulmanos poderiam dar uma contribuição insubstituível para a paz no mundo, dizendo que a ameaça verdadeira não era o confronto de civilizações, no qual ele não acreditava, mas o confronto de ignorâncias e radicalismos”. E quem acolheu o seu legado, confirmou sua firme convicção de que “as religiões não são o problema, mas fazem parte da solução. Portanto, estamos “condenados” ao diálogo inter-religioso.

Prova disso é a viagem apostólica aos Emirados Árabes Unidos em fevereiro passado, na qual o Papa Francisco e o Grão Imame de Al-Azhar assinaram o Documento sobre a Fraternidade Humana pela paz mundial e convivência comum, conhecido como Declaração de Abu Dhabi. A esse respeito, o relator disse estar “certo de que Sua Eminência o teria aprovado e ficaria feliz”. Porque, concluiu, “o diálogo inter-religioso não pode ser entendido se não for inserido no caminho, de longa data, das relações inter-religiosas da Igreja Católica. Um caminho levado adiante com grande disponibilidade e inteligência, e na fidelidade às exigências da verdade e da caridade do Evangelho, também pelo cardeal Tauran.

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17 janeiro 2020, 13:49