Defesa da mulher
Silvonei José - Cidade do Vaticano
Na homilia da Missa por ocasião do Dia Mundial da Paz, 1º de janeiro, solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, o Pontífice ofereceu uma ampla reflexão sobre a dignidade da mulher. Uma reflexão que vale sempre apena recordar e beber do seu conteúdo.
No primeiro dia do ano celebramos o casamento entre Deus e o homem, inaugurado no ventre de um Mulher, disse Francisco. Em Deus haverá sempre a nossa humanidade e para sempre Maria será a Mãe de Deus. “Ela é mulher e mãe, isso é o essencial”. Dela, mulher, surgiu a salvação e, portanto, não há salvação sem a mulher. Ali Deus se uniu a nós e, se quisermos nos unir a Ele, “devemos passar pela mesma estrada: por Maria, mulher e mãe".
As mulheres são fontes de vida
Iniciamos o ano com o signo de Nossa Senhora, mulher que teceu a humanidade de Deus. “Se queremos tecer de humanidade as tramas dos nossos dias, temos de recomeçar da mulher", acrescentou Francisco, explicando: "o renascimento da humanidade começou com a mulher". As mulheres são fontes de vida. No entanto, elas são constantemente ofendidas, espancadas, violadas, induzidas à prostituição e à supressão da vida que levam no ventre. Francisco disse então uma frase forte, a ser escrita de modo indelével no coração da nossa sociedade: “Qualquer violência infligida às mulheres é uma profanação de Deus, nascido de mulher. Do corpo de uma mulher veio a salvação para humanidade: da forma como tratamos o corpo da mulher entendemos o nosso nível de humanidade”. O Santo Padre então traz seu pensamento para a nossa realidade mundana: quantas vezes o corpo da mulher é sacrificado nos altares profanos da publicidade, do lucro, do pornografia, explorada como uma superfície a ser usada. O corpo da mulher deve ser libertado do consumismo, deve ser respeitado e honrado; “é a carne mais nobre do mundo, concebeu e deu à luz o Amor que nos salvou!"
Uma frase que nunca ouvimos
Segundo Valentina Alazraki, decana dos “vaticanistas”, Francisco na sua homilia foi muito mais longe, no sentido de que nunca o tínhamos ouvido expressar-se nestes termos. Ele recorda que Deus nasceu de uma mulher, que a Igreja é mãe, ela é mulher, e portanto a salvação vem de uma mulher. Então bater numa mulher é bater em Deus, de alguma forma. Essa é uma frase que nunca ouvimos antes.
Surpreende também quando disse que pela forma como tratamos o corpo de uma mulher, seremos julgados. É uma frase que ele sempre aplicou a outros conceitos: ele sempre disse que seremos julgados pela forma como tratamos os últimos, os indefesos, os sem voz, os migrantes... Aqui ele transferiu este conceito para a mulher. Parece algo bonito e muito humano, disse Valentina.
Depois há a ideia muito forte de maternidade, que não significa que para Francisco a mulher seja apenas uma mãe, mas que há uma maternidade violada, humilhada – basta pensar em todas as mulheres que atravessam desertos, mares para levar os seus filhos em segurança - uma maternidade que não é reconhecida, que não é ajudada. Conceitos comoventes, fora do coração.
Voz dos sem nome
Certamente Francisco aprofundou este tema, com leituras e testemunhos, disse ainda Valentina. Ele ouviu as vítimas do tráfico que trouxe até o Vaticano - lembro-me, sublinhou, de uma escrava sexual que contou coisas terríveis, depois também uma escrava do trabalho - e acredito que as suas palavras saem não só porque leu livros ou estatísticas, mas porque fez seus os testemunhos de muitas mulheres.
Francisco quer ser a voz de todos aqueles que não têm nome.
No início deste Ano Novo, Francisco, convida-nos a pedir a graça de acolher e cuidar dos outros, se quisermos um mundo melhor, que seja casa de paz e não palco de guerra, que respeite a dignidade de cada mulher. Da mulher, nasceu o Príncipe da Paz. Uma conquista em prol da mulher é uma conquista em prol de toda a humanidade.
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