Exortação Querida Amazonia: deixar-se cativar pelo desejo da missão
Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano
Realizou-se no final da manhã desta quarta-feira (12/02), na Sala de Imprensa da Santa Sé, a coletiva de apresentação da Exortação apostólica pós-sinodal do Papa Francisco Querida Amazonia.
Tomou parte da coletiva o jesuíta pe. Adelson Araújo dos Santos, docente de Espiritualidade na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma que nos falou sobre qual novidade nos traz a exortação.
Eu acredito que o Papa ele não quis trazer nenhuma outra novidade a não ser nos convidar a continuarmos esse caminho Sinodal que é um caminho que não começa com Sínodo, começa muito antes e parece que ele quer, deseja que não termine também com o Sínodo. Então ele nos convida a fazer o quê agora. A lermos na integralidade o Documento Final é isso que ele escreve na sua Exortação, nos convida a todos a lermos o Documento Final, nos empenharmos a aplicá-lo na nossa realidade. Significa que nós temos agora 120 propostas dentro das quais eu sou convidado a fazer um discernimento agora para perceber o que está meu alcance já fazer na minha vida como cristão. Mas o que tá na alcance da minha paróquia, do meu grupo, do meu movimento, da minha Congregação religiosa, da minha diocese e da minha Conferência Episcopal até chegarmos em alguns pontos que são exclusivos da competência do Santo Padre decidir, mas ele nos convida a sermos de novo uma Igreja que está em caminho, a explicação da palavra Sínodo, caminhar juntos, e sinodalidade. Ele não quer pura e exclusivamente tomar decisões sozinho sem antes escutar o seu povo, sem antes escutar os seus pastores, sem antes escutar o seu rebanho. Acho que esse espírito que está por trás da Exortação apostólica é que poderíamos dizer é uma grande novidade que não é uma novidade do Sínodo da Amazônia, mas uma novidade do pontificado do Papa Francisco.
Pe. Adelson fala ainda, do ponto de vista pastoral, sobre os caminhos indicados na Exortação em relação à escassez de sacerdotes para atender uma área tão vasta como a Amazônia.
No ponto quando o Papa na Exortação apostólica fala do seu sonho eclesial, ele retoma muita coisa que no Documento final vem sob o título de uma conversão Sinodal, de uma conversão Pastoral. Dentro desses pontos, e isso também a gente pode recordar das próprias palavras conclusivas do Papa no final do Sínodo, ele aponta caminhos concretos para uma reforma por exemplo na formação dos padres, na formação do clero para que nós possamos já desde a formação preparar os jovens, os futuros presbíteros a estarem abertos e se deixarem cativar pelo desejo da missão, pelo desejo missionário de não serem pessoas pouco disponíveis apostolicamente. Mas ele também chama atenção, por exemplo, o próprio Papa durante o Sínodo falou isso, que as Conferências episcopais dentro das quais estão os países da Pan-Amazônia aonde ainda há uma grande concentração de sacerdotes só em outras regiões mas fora da Amazônia. Então esse convite para que nós pensemos seja cada sacerdote mas seja também os bispos, os presidentes das conferências episcopais, como nós podemos estimular o nosso sacerdócio a ser um sacerdócio ad gentes, um sacerdócio que sinta o clamor do povo da Amazônia e abdique da sua cultura, do seu clima confortável, da sua realidade e vá como os primeiros missionários, como os primeiros que chegaram ao Brasil e enfrentaram o tanta dificuldade para nos catequizar, para que nós pudéssemos receber o anúncio da salvação.
O encontro contou também com a participação de irmã Augusta de Oliveira, vigária-geral da Congregação das Servas de Maria Reparadoras. Eis o que disse a propósito da Exortação no que diz respeito ao papel das mulheres na realidade eclesial da Amazônia.
A Exortação ela traz muita esperança. Se nós lermos os quatro sonhos: o sonho social, o sonho cultural, o sonho ecológico e o sonho eclesial traz muita esperança para nós mulheres da Amazônia. Por que? Porque deixou um caminho aberto se nós lermos os números da inculturação dos ministérios nós vamos encontrar ali grande consideração do Papa sobre a força e o dom das mulheres e ele expressa claramente que não fossem as mulheres com a sua coragem, a sua perseverança, muitas comunidades no Brasil, na Amazônia não existiriam, quer dizer seriam mortas. Então isso para nós é bom. E a gente pode se perguntar: é o suficiente? Não. Como eu disse no meu texto nós queremos algo mais. Queremos continuar a nossa participação, o nosso compromisso de vivenciarmos a nossa missão como mulheres inseridas na Igreja também nos organismos de participação, como os conselhos, seja os conselhos em nível de Igreja e já participamos de tantos conselhos em nível social. Então eu acredito que o que ele abriu foi essa possibilidade de discussão, de reflexão e de continuar caminhando na nossa participação como mulheres na Igreja. Tinha uma expectativa do diaconato? Tinha e a gente sabe que tinha, porém eu acredito que até providencial não é, não ter sido tocado por que? Porque deixa um espaço aberto e seremos nós mulheres a sermos criativas no nosso processo de construção de um ministério inculturado na Amazônia. Não no modelo que existe hoje de diaconato, mas no modelo que nós mulheres acreditamos que é bom e que é preciso que aconteça na Amazônia.
O cientista brasileiro Carlos Nobre, Prêmio Nobel 2007, especialista em temas ligados ao aquecimento global e estudioso da Amazônia há mais de 40 anos, fala na entrevista sobre a importância de encontrar trajetórias sustentáveis para a Amazônia.
Há várias dimensões no Documento. A Exortação que certamente se inspirou também no Documento final do Sínodo e que fala que nós temos que ter sonhos, temos que ter sonhos para salvar a nossa Querida Amazônia e são vários elementos espirituais e éticos mas também nós temos que sonhar como encontrar trajetória sustentáveis para Amazônia e o Documento final do Sínodo de fato faz uma série de proposições práticas, práticas com nós podemos ter uma moderna economia, como nós podemos unir o conhecimento tradicional das populações indígenas com a ciência moderna, com tecnologias modernas de modo a melhorar a qualidade de vida de todos os amazonidas. Então a exortação ela nos remete a sonhar mas nós temos que implementar esses sonhos e também transmite um certo otimismo que é possível realmente nós ainda salvarmos a Amazônia. Então esse é um aspecto muito importante para instigar um otimismo que é possível salvar a Amazônia, preservar a diversidade cultural, preservar a biodiversidade, preservar as florestas, os rios. Essa é a mensagem que eu pelo menos consegui ver, uma mensagem filosófica, espiritual e ecológica na Exortação e o Documento final do Sínodo ele faz uma série de proposições socioambientais, socioecológicas, totalmente amparadas pela melhor ciência. A ciência amazônica ela suportou, apoiou e o Sínodo ouviu muitos cientistas e trouxe um pouco do que o cientista o que a ciência diz quais seriam trajetórias sustentáveis para Amazônia, para manter a floresta.
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