Turkson: reforçar a solidariedade e amizade em tempos de coronavírus
Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano
“Estamos vivendo dias de forte preocupação e crescente inquietude, dias em que a fragilidade humana e a vulnerabilidade da presumível segurança na técnica são insidiadas a nível mundial pelo Coronavírus (COVID-19), diante do qual se estão debilitando todas as atividades mais significativas, como a economia, o empreendedorismo, o trabalho, as viagens, o turismo, o esporte e até mesmo o culto, e seu contágio limita notavelmente também a liberdade de espaço e de movimento.”
É o que afirma o prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, cardeal Peter Turkson, numa mensagem endereçada aos presidentes das Conferências episcopais, aos bispos encarregados da pastoral da saúde, aos agentes da saúde e sócios dessa pastoral, às autoridades civis, aos enfermos e suas famílias, aos voluntários e a todas as pessoas de boa vontade, na qual exorta as pessoas e os Estados a intensificar a solidariedade.
Proximidade da Igreja a todos aqueles que sofrem
Desse modo, o referido dicastério vaticano deseja unir-se à voz do Santo Padre, renovando, assim, a proximidade da Igreja, na animação da pastoral da saúde, a todos aqueles que sofrem por causa do contágio do COVID-19, às vítimas e às suas famílias, bem como a todos os agentes de saúde, engajados na linha de frente, dispendendo toda energia na assistência às pessoas atingidas e em levar alívio a estas.
“Pensando particularmente nos países mais atingidos pelo contágio, nos unimos, recordando-os em nossa oração, no trabalho das autoridades civis, dos voluntários e daqueles que estão empenhados em deter o contágio e a prevenir o risco para a saúde pública e o crescente medo que tal difusa epidemia está gerando”, lê-se.
Na mensagem o purpurado encoraja também as estruturas e as organizações de saúde leigas e católicas, nacionais e internacionais, a continuar oferecendo sinergicamente a assistência necessária às pessoas e às populações, bem como a realizar todos os esforços que se tornam indispensáveis para encontrar uma solução à nova epidemia, segundo as indicações da OMS e das autoridades políticas nacionais e internacionais.
Solidariedade do Santo Padre e dos chefes de Estado
“Nesta circunstância – prossegue –, tanto o Santo Padre quanto os chefes de Estado mostraram solidariedade aos países mais atingidos, doando produtos médico-sanitários e ajudas financeiras.”
“Fazemos votos – afirma – de que todos possam prosseguir nesta obra de apoio, porque diante de uma emergência tal muitas nações, sobretudo aquelas com sistemas de saúde frágeis, se encontrarão sobrecarregadas pelos efeitos do vírus, e talvez não serão capazes de enfrentar as demandas de tratamentos.”
Este momento de grande necessidade, afirma o cardeal Turkson, “poderá ser, esperamos, um tempo propício para reforçar a solidariedade entre os Estados, a amizade entre as pessoas. Esse é o tempo de promover a solidariedade internacional na partilha dos instrumentos e dos recursos”.
Emergência evidencia as desigualdades
É claro, observa o prefeito do referido dicastério vaticano, “esta incidência do vírus, como qualquer situação de emergência, evidencia de modo geral as graves desigualdades que caracterizam nossos sistemas socioeconômicos. São desigualdades de recursos econômicos, de utilização dos serviços de saúde, bem como de pessoal qualificado e de pesquisa científica”
Diante deste leque de desigualdades a família humana é interpelada a sentir-se e viver realmente como uma família interconectada e interdependente. A incidência do Coronavírus deu prova desta relevância global, tendo atingido inicialmente um só país para depois difundir-se em todas as partes do globo.
Tempo propício para compreender o valor da fraternidade
Para cada pessoa, crente ou não crente, esse é um tempo propício para compreender o valor da fraternidade, do estar ligados um ao outro num modo indissolúvel; um tempo no qual, no horizonte da fé, o valor da solidariedade, o qual brota do amor que se sacrifica pelos outros, “nos ajuda a ver o ‘outro’ – pessoa, povo, ou Nação – não como um instrumento qualquer (...), mas como nosso ‘semelhante’, uma ‘ajuda’ (cfr. Gn2,18.20), a tornar partícipe, igual a nós, do banquete da vida, ao qual todos os homens são igualmente convidados por Deus”, ressalta o purpurado citando a Carta encíclica Sollicitudo Rei Socialis de João Paulo II (SRS 39,5).
O Papa Francisco, em sua Mensagem para a Quaresma 2020, lê-se ainda, nos exorta a contemplar com coração renovado o mistério da Páscoa, mistério da morte e ressurreição de Jesus, e a acolher livre e generosamente seu doar-se: seu sofrimento até a morte como dom de amor pela humanidade.
O abraço do sofrimento de Jesus, nos diz o Papa Francisco, se torna abraço de todos os sofredores do nosso mundo, incluídos todos aqueles que se encontram infectados pelo COVID-19, destaca o cardeal Turkson acrescentando que eles são hoje a expressão de Cristo que sofre, e do mesmo modo que a vítima na parábola do bom samaritano, necessitam de gestos concretos de proximidade por parte da humanidade.
Oração, jejum e caridade
“No início deste itinerário quaresmal, para muitos desprovido de alguns sinais litúrgicos comunitários como a celebração da Eucaristia, somos chamados a um caminho ainda mais radicado naquilo que sustenta a vida espiritual: a oração, o jejum e a caridade”, exorta o purpurado ganense.
“Quantas vezes o Papa Francisco nos convidou a ter as Sagradas Escrituras ao alcance da mão! A oração é a nossa força, a oração é o nosso recurso. Eis então o momento favorável para redescobrir a paternidade de Deus e o nosso ser filhos”, lê-se na mensagem.
Cultivar a sabedoria do coração
Rezemos então a Deus Pai para que aumente a nossa fé, ajude os doentes na cura e sustente os agentes de saúde em sua missão. Esforcemo-nos para evitar a estigmatização de quem foi atingido: a doença não conhece limite nem de cor de pele, pelo contrário, fala a mesma língua. Cultivemos a “sabedoria do coração”: que é uma “atitude infundida pelo Espírito Santo” em quem sabe abrir-se ao sofrimento dos irmãos e reconhece neles a imagem de Deus”, exorta.
Pedimos às autoridades políticas e econômicas que não negligenciem a justiça social e o apoio à economia e à pesquisa, agora que o vírus está criando, infelizmente, uma nova “crise econômica”. “Continuaremos de todos os modos apoiando os esforços dos agentes de saúde e das estruturas médico-sanitárias nas várias partes do mundo, sobretudo naquelas mais remotas e em maior dificuldade, confiando também na solidariedade operosa de todos”, assegura.
“Pedimos ao Espírito Santo que ilumine os esforços dos cientistas, dos agentes de saúde e dos governantes e confiamos todas as populações atingidas pelo contágio à intercessão da Virgem Maria, Mãe da humanidade”, finaliza.
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