Revolução digital na Tipografia Vaticana: chega a impressora "green”
Michele Raviart, Silvonei José – Vatican News
Inovação tecnológica, respeito pelo ambiente, atenção às novas formas do mercado editorial. A Tipografia Vaticana renova-se nesse sentido, com a introdução de uma nova geração de máquinas de impressão digital no seu processo de produção. A máquina chegou no domingo passado e está sendo instalada nestes dias nas salas da Tipografia dentro dos muros vaticanos. É um verdadeiro "ônbius" de oito metros de comprimento, 4,5 metros de largura e mais de dois metros e meio de altura e reduzirá o consumo ao mínimo e facilitando a impressão de produtos de pouca tiragem, mais especializados e mais próximos aos leitores.
Impressão sem desperdício de materiais
"Esta é uma das passagens históricas na vida da Tipografia Vaticana", destaca ao Vatican News Francesco Masci, chefe da Direção Tecnológica do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé, seja do ponto de vista ecológico, seja editorial. Se até agora, de fato, a impressão era feita de uma forma chamada "off-set" através de placas que eram deixadas de lado após uma única utilização, agora a impressão digital irá reduzir ao mínimo os materiais descartados. "Há um aspecto 'green' nestas máquinas digitais de nova geração", explica Masci, "seja porque não produzem descartes de processamento - e portanto não produzem resíduos - seja porque utilizam tintas a base d’água que eliminam solventes químicos que anteriormente tinham de ser eliminados em grandes quantidades. A partir da próxima semana, em teoria, todos os trabalhos que passarem pela máquina digital deixarão de produzir qualquer material descartável". Há também a questão do consumo de energia, continua o diretor, "em comparação com as linhas de produção industrial ‘off-set’, este tipo de máquina tem um consumo absolutamente inferior e, portanto, o custo de produção em geral é muito inferior. E o impacto sobre o ambiente também. Não temos mais descartes e não temos mais grande consumo de energia".
Um processo automatizado
O princípio da impressão digital é o mesmo que o da impressão tradicional – trata-se sempre de um objeto que passa por rolos quentes que imprimem a tinta - mas agora todo o processo é automatizado, tanto que é necessário apenas um operador para gerir a máquina inteira. Também o controle de qualidade, que nas linhas de produção anteriores era deixado aos operadores que sobre uma mesa luminosa verificavam a uniformidade da impressão sob um microscópio, é agora delegado a um scanner ótico que verifica automaticamente o resultado da impressão e pára instantaneamente a produção se houver algum problema.
Da placa à tinta magnética
Não é tudo: a máquina utiliza uma tinta magnética especial que, através da polarização, assume a imagem processada pelo computador e a transfere para o papel ou outros materiais suportados, tais como tela, plástico ou metal. "A imagem em negativo então", explica Masci "já não é realizada na placa, mas é este rolo magnético que distribui a tinta de acordo com a imagem a ser transferida". Para além das cores clássicas, então, se podem colocar líquidos especiais para acabamentos especiais. "Também se pode reproduzir o ouro", salienta o diretor, "de uma forma que não tem o mesmo rendimento que a técnica da 'folha de ouro', mas chega muito perto".
Impressões mais sustentáveis
A impressão digitalizada permite também satisfazer as necessidades do mercado editorial contemporâneo, favorecendo pequenos números de projetos editoriais mais especializados ou “on demand”, ou seja, a pedido do consumidor, que pode ver um volume impresso, que de outra forma só estaria disponível em formato digital. Estas máquinas podem produzir até uma única cópia de um livro, evitando a acumulação de estoques e produção de cópias em excesso. "Diminuir os custos da impressão off-set significa fazer uma tiragem de pelo menos dez mil exemplares. Grandes quantidades que depois correm o risco de permanecer estocadas durante anos, com um problema também de espaço físico", explica Francesco Masci. "A característica inovadora desta máquina", sublinha, "é a sua capacidade de suportar poucas impressões, que é o problema para a publicação neste momento. A grande mudança no mercado global é ter produtos personalizados e pequenas tiragens para evitar estoques. Agora poderemos satisfazer mais clientes que irão nos pedir o mesmo livro, mas em quantidade muito menor".
Os Papas e a imprensa
A introdução da impressora digital é o resultado de um processo de análise que começou em 2018 e de meses de trabalho para otimizar recursos e espaços. A inovação, de fato, tem frequentemente impulsionado a história da tipografia dos Papas. Foi o próprio Pontífice, então Pio IV, que criou a primeira tipografia oficial em Roma em 1561, chamando de Veneza Paolo Manuzio, filho do grande humanista e editor, Aldo. A tipografia, que dois anos mais tarde passou para o Município da cidade e se tornou "do povo romano”, publicou os textos resultantes do Concílio de Trento.
A história da Tipografia Vaticana
A primeira tipografia propriamente "Vaticana", remonta, ao invés a 1587 e foi instituída nos Palácios vaticanos por Sisto V, que importou de Paris os caracteres móveis necessários para as publicações, a mais importante das quais foi a Bíblia, de acordo com os princípios tridentinos de 1593. Após séculos de escassa atividade, a tipografia voltou à vida entre o final do século XIX e o início do século XX, com a introdução da impressão a quente e a construção, em 1908, do edifício onde se encontra atualmente. No ano seguinte, a Tipografia fundiu-se com a histórica Tipografica Poliglotta, fundada por Urbano VIII em 1626 para a publicação do material necessário para as missões da Propagande Fide. Assim nasceu a Tipografia Poliglota do Vaticano, que em 1937 foi confiada, juntamente com a direção do L'Osservatore Romano, à Sociedade Salesiana de Dom Bosco. Na década de 1980 chegou o computador, enquanto em 1991 chegou a fusão com a tipografia do jornal diário da Santa Sé e a atual denominação, até fazer parte do Dicastério para a Comunicação.
Uma atividade única
Hoje, a Tipografia Vaticana produz e confecciona todos os atos Pontifícios e documentos oficiais dos vários Dicastérios e Escritórios da Santa Sé e do Estado da Cidade do Vaticano, além das atividades de impressão do l’Osservatore Romano. A isto junta-se a produção para a Livraria Editora Vaticana, para as várias Congregações, para o Hospital Infantil Bambino Gesù, os livros de arte para os Museus do Vaticano e a Biblioteca do Vaticano, bem como outros materiais como os livretes para a Missa. O que torna a atividade da Tipografia Vaticana única é também a seção de encadernação artesanal, que trabalha principalmente para a prefeitura da Casa Pontifícia e para o Papa. Pergaminhos, impressão em folhas de ouro, bulas, livros. Objetos de valor único muitas vezes destinados ao próprio Pontífice ou doados aos Chefes de Estado convidados ao Vaticano.
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