A sede da Rádio Vaticano em primeiro plano tendo como fundo a Basílica Vaticana A sede da Rádio Vaticano em primeiro plano tendo como fundo a Basílica Vaticana  Editorial

Rádio Vaticano completa 90 anos: a voz do Papa para o mundo inteiro

A estação de rádio projetada e construída por Guilherme Marconi, encomendada pelo Papa Pio XI, completa 90 anos. Hoje, a emissora da Santa Sé fala 41 idiomas. O responsável pela Rádio fala de duas novidades para este aniversário: uma nova página web e a rádio Web

MASSIMILIANO MENICHETTI

Quase 12 mil horas de transmissão em um ano, incluindo transmissões ao vivo, programas informativos, litúrgicos e musicais. Esta é a carteira de identidade da Rádio Vaticano, a emissora da Santa Sé, criada por Pio XI, que a confiou à Companhia de Jesus, e que foi construída por Guilherme Marconi noventa anos atrás. Hoje transmitimos em 41 idiomas e todos os dias levamos as palavras do Evangelho e a voz do Papa para o mundo inteiro.

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Este aniversário é particularmente desafiador para nós. Estamos celebrando nosso 90º aniversário enquanto uma das maiores provações para toda a humanidade está em andamento devido à pandemia da COVID-19. Nossa missão sempre foi a de não deixar ninguém sozinho e levar a esperança do anúncio cristão, a voz do Papa e ler os fatos à luz do Evangelho. Este momento nos questiona e nos desafia ainda mais. Quando, por exemplo, em 9 de março de 2020, o Papa Francisco decidiu celebrar a missa ao vivo na Casa Santa Marta, permitindo que o mundo inteiro rezasse com ele,  nossos esforços, técnicos e editoriais, se multiplicaram. Recordamos que naquele período em muitas nações as celebrações estavam suspensas. Além do serviço transmissões ao vivo em várias línguas, criamos novos programas, podcasts e audiolivros, para estar perto de todos, para alcançar todos os cantos do planeta. Nestes meses, além de informar, continuamos a reunir e contar histórias de proximidade, de alívio, de solidariedade. Mostramos o rosto da Igreja e daquela parte da sociedade que constrói pontes, muitas vezes silenciosamente, ajuda e inclui.

Segundo as estatísticas e as pesquisas mais recentes, a rádio goza de excelente saúde. Em muitas partes do mundo, além de ser uma emissora de ondas, transmite também imagens, mensagens, interação. O Rádio vive com as redes sociais, e se tornou parte delas. É certamente imediatismo e rapidez. Nossa vocação é levar a Boa Nova a todos e para isso usamos ondas e bit. A reforma desejada pelo Papa Francisco também nos projetou em uma nova dimensão, caracterizada pela integração com outras mídias, a começar pelo jornal L’Osservatore Romano. Os funcionários da Rádio Vaticano, provenientes de 69 nações, possibilitaramo nascimento do portal Vatican News, que conta com fluxos vídeos, fotográficos, áudio e textuais. Para dar um exemplo: os podcasts da Rádio também são difundidos através das redes sociais do Dicastério para a Comunicação, e frequentemente são acompanhados por imagens e gráficas. E também, as reportagens ou programas de rádio muitas vezes tornam-se páginas web e artigos do L'Osservatore Romano. Somos a expressão de um grande trabalho de equipe e ainda estamos caminhando.

A Rádio Vaticano sempre falou muitos idiomas, mas não tínhamos programações linguísticas especiais. A rádio Web, que agora está sendo criada, estreará em italiano, francês, inglês, espanhol, português, alemão e armênio. Ao longo deste ano, serão criados quase 30 canais ao vivo, correspondentes ao mesmo número de idiomas, que podem ser ouvidos tanto na página da rádio, especialmente desenvolvida em sinergia com o Vatican News, como através do aplicativo da Rádio Vaticano. Será dado um amplo espaço à música e à liturgia em latim.

A Rádio Vaticano transmite via satélite, DAB+, digital terrestre, internet e, naturalmente por ondas hertzianas. Não devemos esquecer que em particular as ondas curtas representam o forte apelo do Papa Francisco, que é o de alcançar as periferias do mundo. Ficamos muito impressionados com o testemunho do padre Pierluigi Maccalli, que foi sequestrado no Níger em 2018 e libertado em outubro de 2020. Após sua libertação, ele expressou seu desejo de nos visitar. Contou-nos que durante sua prisão no deserto do Saara, deram-lhe um pequeno rádio com ondas curtas, que se tornou sua "janela de ar puro". Graças a esse radinho, "apesar de ter que ser reparado várias vezes e de estar aberto em duas partes", ele nos ouvia em francês e italiano e também com o rádio foi possível participar da Missa de Pentecostes com o Papa. Uma proximidade, nos disse, que jamais esquecerá. E nós, desde que conhecemos esta história, sempre que estudamos como otimizar as transmissões para a África, carregamos em nossos corações o que chamamos de Emissões Maccalli.

Hoje, ao celebrarmos estes 90 anos, olhamos para frente, com a força e a consciência de nossas raízes e o desejo de levar a luz do Evangelho a todo o mundo. Todo bom caminho requer a consciência de onde se vem e saber em que direção se está indo. A Rádio Vaticano tem uma grande história de serviço, em apoio da fé, da liberdade, da verdade, da Igreja, uma história marcada por décadas de gestão por parte dos Jesuítas, que ainda são responsáveis por muitas redações. Pio XI, em sua primeira radiomensagem, dirigiu-se "a todos os povos e a toda criatura"; e Pio XII através da Statio Radiophonica Vaticana apelou nos microfones da Rádio para que as tensões não levassem ao abismo da Segunda Guerra Mundial: naqueles anos sombrios, a Rádio realizou um serviço admirável, atuando como ponte, ajudando a obter notícias sobre o destino de milhares de pessoas desaparecidas ou presas.  A Rádio superou todas as barreiras: durante os anos do totalitarismo foi ouvida por muitas pessoas clandestinamente, com o risco de suas vidas, porque essa era a única maneira de participar da Missa. Também recordamos do desafio do Concílio contado em cerca de 3.000 horas de transmissão, das muitas viagens internacionais e, mais uma vez, dos membros fundadores da EBU (European Broadcasting Union), a maior associação global de mídia de serviço público. Vivemos os impensáveis 72 dias, que começaram com a morte de Paulo VI e ficaram na história como o "Ano dos Três Papas", que pôs toda a estrutura da mídia à prova. Enfrentamos a revolução digital, seguida pelas transmissões via satélite, e desafios contínuos até a pandemia que vivemos hoje, sempre com o objetivo de estar perto de todas as pessoas que procuram e desejam ouvir.

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09 fevereiro 2021, 12:30