Comunidades eclesiais missionárias como a casa
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
Na mensagem para o Dia Mundial das Missões, o Papa Francisco recordou com gratidão de todas as pessoas “cujo testemunho de vida nos ajuda a renovar o nosso compromisso batismal de ser apóstolos generosos e jubilosos do Evangelho”, em particular, daqueles que “foram capazes de partir, deixar terra e família para que o Evangelho pudesse atingir sem demora e sem medo aqueles ângulos de aldeias e cidades onde tantas vidas estão sedentas de bênção (...). Viver a missão é aventurar-se no cultivo dos mesmos sentimentos de Cristo Jesus e, com Ele, acreditar que a pessoa ao meu lado é também meu irmão, minha irmã.”
Mas na missão de cada cristão batizado e confirmado na fé pelo sacramento da crisma, cabe como prioridade a participação em pequenos núcleos de comunidades eclesiais missionárias, objetivo principal da novas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil. Padre Gerson Schmidt*:
“No número 33 da Lumen Gentium aponta claramente sobre a missão de todo o Povo de Deus, como participante da missão salvadora de Cristo: “O apostolado dos leigos é participação na própria missão salvadora da Igreja, e para ele todos são destinados pelo Senhor, por meio do Batismo e da Confirmação. E os sacramentos, sobretudo a sagrada Eucaristia, comunicam e alimentam aquele amor para com Deus e para com os homens, que é a alma de todo o apostolado” (LG, 33).
Na missão de cada cristão batizado e confirmado na fé pelo sacramento da crisma, cabe como prioridade a participação em pequenos núcleos de comunidades eclesiais missionárias, objetivo principal da novas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil. Dizem assim as diretrizes, no número 34: “A formação de pequenas comunidades eclesiais missionárias, como prioridade da ação evangelizadora, oferece um referencial concreto para a conversão pastoral. Nessas comunidades, os cristãos leigos e leigas, a partir da participação na vida da Igreja, do senso de fé, dos carismas, dos ministérios (LG, n. 9-13) e do serviço cristão à sociedade (GS, n. 43), vivem sua vocação e sua missão, em comunhão e solidariedade. Elas oferecem ambiente e meios para a iniciação da vida cristã e para uma formação sólida, integral e permanente. São espaços propícios para o crescimento espiritual, por meio da partilha da experiência de fé e da fidelidade a Jesus Cristo e a seu Evangelho nos contextos em que se encontram. "Uma fé autêntica - que nunca é cômoda nem individualista - comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela" (EG, n. 183). Toda comunidade cristã é essencialmente missionária, "Igreja em saída", uma Igreja para fora de si mesma.
A grande e única prioridade da ação pastoral da Igreja no Brasil é a formação de pequenas comunidades cristãs missionárias, alicerce de todos os 4 pilares da Igreja vista como uma casa. Para ajudar a compreender essa única prioridade, as DGAE utilizam imagens bastante conhecidas: casa e pilares. A prioridade é a casa, ou seja, as Comunidades Eclesiais Missionárias (CEM). Essa é uma reformulação desejada faz tempo. Essa única prioridade evangelizadora para a Igreja no Brasil é fruto de uma caminhada que se iniciou em 2007, com a Conferência e o Documento de Aparecida. Como sabemos, Aparecida nos chama a “recomeçar a partir de Jesus Cristo” (DAp 12, 41 e549) e, para que isso aconteça, é necessário que a vida na comunidade eclesial passe por algumas transformações. Aparecida nos recorda que, para a maioria dos cristãos, a vida na Igreja acontece nas paróquias (DAp 170). Lembra, ao mesmo tempo, que as paróquias necessitam de “reformulação de suas estruturas, para que sejam uma rede de comunidades e grupos capazes de se articular” (DAp 172 e 372). Para que isso aconteça, Aparecida, reunindo uma reflexão que já vinha acontecendo no continente latino-americano, especialmente no Brasil, propõe a “a setorização em unidades territoriais menores, com equipes próprias de animação e coordenação que permitam maior proximidade com as pessoas e grupos que vivem na região” (DAp 372). Nessa pequena frase, encontra-se o que podemos chamar de base humana para a experiência de Igreja. De fato, a vida eclesial começa a acontecer quando, em resultado ao encontro com Jesus Cristo, se constroem relações humanas de fraternidade fortes o suficiente para compartilhar alegrias e sustentar nos momentos difíceis (Lc 8,19-21)[1].
É muito importante a formação das pequenas comunidades, dentro da grande comunidade paroquial. Dizem assim as diretrizes, no número 35, inspirando-se nas palavras do Papa Bento XVI, num discurso aos católicos alemães, em 2011: "Muitas pessoas carecem da experiência da bondade de Deus. Não encontram qualquer ponto de contato com as Igrejas institucionais e suas estruturas tradicionais. (...) Se não chegarmos a uma verdadeira renovação da fé, qualquer reforma estrutural permanecerá ineficaz. (...) As pessoas precisam de lugares, onde possam expor a sua nostalgia interior. E, aqui somos chamados a procurar novos caminhos da evangelização. Um destes caminhos poderia ser as pequenas comunidades, onde sobrevivem as amizades, que são aprofundadas na frequente adoração comunitária de Deus. Onde há pessoas que partilham experiências de fé nos âmbitos da família, do trabalho e outros, testemunhando assim uma nova proximidade da Igreja a sociedade. Aparece de modo cada vez mais claro que todos necessitam deste alimento do amor, da amizade concreta de um pelo outro e pelo Senhor[2]. As pequenas comunidades eclesiais missionárias são o esforço e empenho pastoral de criar vínculos próximos onde os paroquianos e fieis se sintam Igreja e pertencentes a uma comunidade de fé e amor, vivendo autenticamente o ser cristão.”
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] Cf. Subsídio de Dom Joel Portela, secretário Geral da CNBB.
[2] BENTO XVI. Discurso no encontro com o Comitê Central dos Cat6ficos Alemães (ZDK), 24 de setembro
de 2011.
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