Vista da capital Nur-Sultan (Нұр-Сұлтан), conhecida até final de 2019 como Astana. Vista da capital Nur-Sultan (Нұр-Сұлтан), conhecida até final de 2019 como Astana. 

Diálogo e paz no centro da visita do Papa ao Cazaquistão

Na manhã desta sexta-feira, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé apresentou o programa da 38ª Viagem Apostólica de Francisco, a Nur-Sultan, capital do vasto país asiático, onde irá participar do VII Congresso dos líderes das religiões mundiais e tradicionais. Interpelado por jornalistas, Bruni disse que os encontros bilaterais ainda estão sendo tratados, não fornecendo nenhum esclarecimento sobre a ausência do Patriarca Kirill ou a hipótese de um encontro com Xi Jinping.

Antonella Palermo - Cidade do Vaticano

“O ponto central desta Viagem do Papa a este imenso país asiático, encruzilhada de multíplices grupos étnicos, credos e culturas, não poderia deixar de ser o diálogo, o encontro, a busca da paz, entre os diversos mundos religiosos e culturais”, afirmou na manhã de sexta-feira, 9, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, ao apresentar aos jornalistas a Viagem Apostólica do Papa Francisco ao Cazaquistão.

O avião papal sobrevoará a Itália, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Sérvia, Montenegro, Bulgária, Turquia, Geórgia, Azerbaijão. Aos chefes de Estado dos países sobrevoados o Papa sempre envia um telegrama de saudação.

Uma Viagem na esteira daquela que João Paulo II fez há 21 anos

 

Esta Viagem Apostólica de Francisco realiza-se em uma época de profundas analogias, como a que João Paulo II fez, há 20 anos, demonstrando à humanidade uma coragem muito significativa, poucos dias após o atentado terrorista às Torres Gêmeas, em Nova Iorque e Pentágono.

Hoje, como naquela época, o cenário internacional é permeado por preocupações globais, como a guerra na Ucrânia e numerosas crises mundiais. Na ocasião, João Paulo II falou sobre a liberdade e unidade da nação e um mundo sem violência, ao se referir aos mártires da fé, do século XX. O pontífice também dirigiu palavras de encorajamento ao país, em tempos de obscura desorientação.

O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé aproveitou para recordar alguns trechos do discurso de João Paulo II ao chegar ao Cazaquistão: "Cazaquistão, terra de mártires e cristãos, terra de deportados e heróis, terra de pensadores e artistas, não tenha medo! As palavras do grande poeta cazaque, Abai Kunanbai, possam servir de bálsamo e encorajamento, apesar dos sinais das feridas físicas, dificuldades e obstáculos, que impedem o trabalho de reconstrução material e espiritual do país: ‘A humanidade tem como princípio o amor e a justiça, que são a coroação da obra do Altíssimo’ (Ditos, cap. 45)”.

Congresso dos Líderes Religiosos no Palácio da Independência, em Nur-Sultan

 

O objetivo da Viagem de Francisco ao Cazaquistão é participar do VII Congresso dos Líderes das religiões mundiais e tradicionais (14-15 de setembro), que terá lugar no Palácio da Independência, na capital Nur-Sultan, bem mais espaçoso que o Palácio da Paz e da Reconciliação, escolhido inicialmente: situado no centro da cidade, sua forma é trapezoidal e decorado externamente com uma treliça de tubos, que lembra a estrutura dos “iurtas”, uma espécie de tenda móvel dos nômades no estepe asiático.

Até o momento, 108 delegações de 50 países confirmaram sua presença. Nas edições anteriores, a Santa Sé era representada por um cardeal, mas desta vez, irá o próprio Pontífice. O tema do Congresso é: "O papel dos líderes das religiões mundiais e tradicionais no desenvolvimento espiritual e social da humanidade, no período pós-pandêmico".

Serão diversos os subtemas abordados: “O papel das religiões para um maior vigor dos valores espirituais e morais do mundo moderno”; "O papel da educação na convivência entre religiões e culturas e o reforço da paz e a harmonia"; "A contribuição dos líderes religiosos e políticos para a promoção da paz e o diálogo inter-religioso global, na luta contra o extremismo, radicalismo e terrorismo, sobretudo por motivos religiosos"; “Contribuição das mulheres para o bem-estar e o desenvolvimento sustentável da sociedade”; e “Papel das comunidades religiosas para melhorar a condição social das mulheres”.

Solidariedade com os descendentes dos mártires da fé do século XX

 

Falando sobre o programa da viagem, Matteo Bruni explicou que a celebração da Santa Missa no dia 14 de setembro, na Praça da Expo (onde foi realizada a Exposição Internacional de 2017, com capacidade para até dez mil pessoas), poderá contar com a participação de alguns cristãos filhos dos perseguidos pelo regime soviético, que ficaram presos nos campos de concentração. É provável que o Papa passe de papamóvel entre os presentes.

Entre os diversos encontros, previstos, o diretor da Sala de Imprensa destacou a visita que o Papa fará à Catedral do Perpétuo Socorro, sobre a qual explicou: “Alguns habitantes da Belarus, da região do Volga e de outros lugares pertencentes à ex-União Soviética, foram deportados nos anos 30 para o Cazaquistão. Ali, para fugir do regime, foi consagrada uma casa de oração na periferia da cidade, em homenagem a um ícone, em torno do qual a comunidade se reunia no tempo da clandestinidade. Nos anos 90, no mesmo lugar, foi construída uma catedral dedicada ao ícone da “Mãe da grande estepe”, visitada por João Paulo II. Sob a sua materna proteção, ali se realizará o encontro do Papa com os bispos e religiosos”.

Encontros bilaterais em vias de definição

 

Antes da inauguração dos trabalhos do Congresso, os líderes religiosos participarão de um momento de oração silenciosa na mesma catedral. Quanto aos cinco discursos que o Pontífice pronunciará, o porta-voz do Vaticano informou aos jornalistas que farão referência à abolição da pena de morte, segundo a nova Constituição aprovada no país em junho deste ano, e à sociedade cazaque e instituições, que eestão m plena transformação após os protestos que abalaram o país no início do ano.

Os encontros bilaterais que terão a presença do Papa durante a sua permanência no Cazaquistão ainda estão em vias de definição, disse Matteo Bruni: "Os tempos e os métodos ainda devem ser decididos".

Quanto à ausência do Patriarca Kirill, há muito tempo anunciada, e ao presumível encontro bilateral com o presidente chinês Xi Jinping - em visita de Estado ao Cazaquistão, nos mesmos dias, - o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé observou que as autoridades do país anunciaram a presença de Xi Jinping em Nur-Sultan no dia 14 de setembro, mas que, até o momento, não está previsto nenhum encontro com o Papa.

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09 setembro 2022, 18:17