Processo vaticano, fala o revisor geral Cassinis Righini
Salvatore Cernuzio – Vatican News
Muitas vezes respostas evasivas e, em geral, uma atitude de fechamento e escassamente colaborativa. Este é o retrato do relacionamento com a Secretaria de Estado oferecido na sexta-feira, 30 de setembro, pelo revisor geral, Alessandro Cassinis Righini, durante seu interrogatório como segunda testemunha da acusação na vigésima sétima audiência do processo vaticano por supostos ilícitos com fundos da Santa Sé.
Revisor interrogado
Em menos de duas horas, no Sala dos Museus Vaticanos, o revisor - interrogado por Roberto Zannotti, em substituição ao Promotor de Justiça, Alessandro Diddi - descreveu em tom crítico as ações financeiras do importante Dicastério, em particular do Escritório administrativo, durante os anos em que trabalhou no Escritório do Revisor, primeiro como adjunto, depois como revisor interino, e finalmente desde 2021 com o encargo formal. O Escritório é um dos três órgãos econômicos, juntamente com o Conselho para a Economia e a Secretaria para a Economia, resultante do trabalho da dissolvida Cosea. Foi a partir daí que, em 2019, partiu a sinalização que, juntamente com a do IOR, deu início à investigação que levou ao processo.
A denúncia de 2019
Daquilo que constituía o notizia criminis foi discutido várias vezes na sexta-feira na sala do Tribunal. A denúncia, explicou Cassinis, foi o resultado de meses passados solicitando documentação, relatórios de especialistas e balanços da Secretaria de Estado, sem jamais receber uma resposta. Ou ouvir ser reiterado: "Quanto menos escrevermos sobre balanços, melhor", como fez monsenhor Alberto Perlasca, então chefe do Escritório administrativo, uma vez durante uma reunião.
Mais em detalhe, o revisor voltou ao verão de 2018, quando o próprio Papa lhe confiou a tarefa de realizar uma revisão específica do Dicastério, tendo em vista o remanejamento à frente da primeira seção. Angelo Becciu, criado cardeal, deixou o papel de substituto para se tornar prefeito da Congregação das Causas dos Santos. Ele foi sucedido em 15 de outubro de 2018 pelo arcebispo venezuelano Edgar Peña Parra. Para este último, o Papa queria que o revisor fizesse "um retrato do que existia". Uma questão que o Papa Francisco, explicou Cassinis, "sempre acompanhou cada vez que houve uma mudança na direção de outras instituições, por exemplo a APSA ou Propaganda Fide".
Jamais qualquer resposta
Enquanto esperava pelo novo substituto, o revisor fazia interlocução com o assessor Borgia: "Iniciamos atividades que imediatamente mostraram algumas coisas que pareciam muito estranhas". "Ficamos pedindo um relato de certas escolhas, de certos documentos, sem obter uma resposta", a testemunha explicou: "Faltavam avaliações de imóveis? Jamais fornecidas. Pedíamos cartas de circularização com os bancos suíços? Nunca dadas. Balanços? A mesma coisa. Muitos balanços usados para reconstruir o quadro que encontramos consultando as Câmaras de comércio nacionais e internacionais".
O contrato de penhora com Credit Suisse
Sobretudo, disse a testemunha, nunca foi fornecido o "contrato de penhora com o Credit Suisse sobre o patrimônio da Secretaria de Estado (num total de 928 milhões de euros, disse ele). Ou seja, a transação pela qual o Dicastério, ao penhorar parte de seus ativos, obteve os recursos para proceder com a compra do Prédio de Londres. De acordo com Cassinis Righini, o dinheiro empenhado foi de 516 milhões, mas durante a audiência sempre foi mencionado o valor de 564 milhões. "Todo este quadro não fazia sentido para nós, não conseguíamos entender... O dinheiro estava na sua maioria comprometido com ativos não líquidos, com produtos especulativos, em um conflito de interesses flagrante com quem havia sugerido estes investimentos". Ou seja, Enrico Craso, durante décadas pessoa de contato do Credit Suisse Italia e, ao mesmo tempo, assessor financeiro do Departamento desde os anos 90, que é também ele um réu.
"Essa não era a maneira de gerir o dinheiro do Óbolo"
"Ficou claro que essa não era a maneira mais apropriada de lidar com o dinheiro do Óbolo de São Pedro", disse o revisor geral. Ainda sobre o negócio de Londres, ele revelou que havia expressado perplexidade já em 26 de novembro de 2018, quando lhe foi apresentada a carta com a qual Parolin teria autorizado o contrato a passar do fundo Gof de Raffaele Mincione para o Gutt de Gianluigi Torzi Gutt (os dois corretores, ambos réus). Este último reteve mil ações com direito a voto a fim de manter o controle exclusivo do imóvel. Já então, assegurou Cassinis, foi noticiado que Torzi faria essa mudança, que - como é sabido - custou à Santa Sé 15 milhões para recuperar a propriedade do Prédio. "Era inaceitável, foi sugerido não executar o acordo, em vez disso, ele foi fechado em 3 de dezembro dessa forma". Não entendo por que com tanta pressa".
A revisão da PWC
A mesma atitude ambígua, Cassinis Righini disse ter encontrado quando o então prefeito da Secretaria para a Economia, cardeal George Pell, assinou um contrato com uma empresa externa de consultoria financeira, a Price Waterhouse Cooper (PWC), para realizar uma revisão contábil de todos os Dicastérios da Cúria. Foi Becciu, de acordo com sua reconstrução, que se opôs, explicando que havia um revisor interno, então por que contratar uma empresa externa para revisar as contas do Estado? A este respeito, Cassinis citou uma frase do então substituto: "Estamos acostumados a verificar, não a ser verificados". Entretanto, tinha sido assinado um contrato com a PWC; a empresa continuou suas atividades, mas a revisão contábil da Secretaria de Estado foi redigida pelo Gabinete do revisor. A estas expressões relativas ao cardeal, o advogado Fabio Viglione respondeu, lembrando que em 2016 o Papa, precisamente após a querela sobre a PWC, havia assinado um Rescrito entregue ao secretário de Estado, Pietro Parolin, no qual reafirmou a plena autonomia financeira do Dicastério. "Houve vários Rescritos, não me lembro deste aqui", respondeu a testemunha.
Investimentos pouco éticos
Durante o interrogatório - não apenas de Zannotti, mas também das partes civis e dos advogados de defesa - Cassinis Righini expressou então suas críticas aos investimentos ou projetos de investimento da Secretaria de Estado de ética duvidosa. Começando com a conhecida proposta do poço de petróleo em Angola, apesar das "posições éticas ambientais conhecidas do Papa". Cassinis também citou os fundos hedge da APSA sobre produtos "não alinhados com a Doutrina Social da Igreja, tais como fabricantes de contraceptivos". Tínhamos relatado isto à APSA, que de fato procedeu então à venda das ações". Além disso, todos esses títulos "não tinham uma cotação de mercado transparente" e "mais comissões estavam sendo pagas" a fundos "viscosos". O problema, segundo o revisor, era também de "competência": no Escritório administrativo, além da falta de pessoal, como reclamavam a Perlasca e os substitutos, havia "sobretudo um problema de competências porque muitas pessoas não tinham a contabilidade. Era uma situação desastrosa... Não se podia entender nada".
Patrimônio de 928 milhões de euros
Uma última menção, pela testemunha, dos 928 milhões de euros que teriam constituído o total do patrimônio da Secretaria de Estado até 2018. Um valor calculado em um pacote de relatórios que cada Dicastério da Cúria é obrigado a elaborar e enviar à Secretaria para a Economia a fim de elaborar o balanço geral. Desse total, 750 milhões haviam sido depositados a instituições bancárias fora do Vaticano, em particular bancos suíços, notadamente o Credit Suisse. "Como assim?", perguntaram alguns advogados. Cassinis Righini disse que não sabia o motivo. Assim como ele disse que não sabia se a "autoridade suprema", ou seja, o Papa, estava ciente disso: "Becciu certamente estava. O Santo Padre não creio".
As próximas audiências
No final da audiência - que foi aberta com a segunda parte do interrogatório ao consultor do Promotor de Justiça, Roberto Lolato, que foi examinado no dia anterior -, o presidente do Tribunal vaticano, Giuseppe Pignatone, listou as datas das próximas audiências. Cinco audiências estão programadas para outubro: 12, 13, 14 e depois 19 e 21. Em novembro, as datas estão fixadas para 10, 11, 23, 24, 25, 30; em dezembro, 1º, 2, 15 e 16. Serão ouvidas todas as testemunhas da acusação, no momento 41. Em todas essas datas, Pignatone disse, "é preciso colocar Perlasca em algum lugar". Será certamente um longo interrogatório".
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