A Virgem Maria e a Igreja na Lumen Gentium
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
O capítulo VIII da Lumen gentium constituiu uma virada decisiva na reflexão teológica sobre a Bem-aventurada Virgem Maria. No artigo “Maria, da Lumen gentium à Redemptoris Mater”, o Prof. Michael F. Hull recorda que após um acalorado debate, o Concílio modificou completamente os fundamentos da Mariologia fazendo duas coisas simples: primeiro, “não produziu um documento separado sobre Maria, destacando assim que a futura Mariologia não poderia ser separada de outros aspectos teológicos importantes.” Depois, “o Concílio incorporou suas instruções relativamente breves sobre Maria na Constituição Dogmática sobre a Igreja, Lumen Gentium. Assim, a Mariologia foi colocada no contexto do Verbo Encarnado e do Corpo Místico, sem implicar uma nova doutrina sobre Maria ou impedir a reflexão teológica (LG, 54).
Embora Paulo VI tenha tentado despertar uma compreensão mais profunda com sua Exortação Apostólica Marialis cultus (2 de fevereiro de 1974) e outros escritos - observa ainda o estudioso -, a Igreja teve que esperar quase um quarto de século antes que a Carta Encíclica Redemptoris mater (25 de março de 1987) reacendesse o interesse dos teólogos pela mariologia.
Depois de "Eclesiologia Mariana na Lumen Gentium", Pe. Gerson Schmidt* nos traz hoje a reflexão "A Virgem Maria e a Igreja na Lumen Gentium":
"Maria é a imagem da Igreja, membro singular da Igreja. O capítulo da Mariologia no documento sobre a Igreja, o capítulo oitavo, intitulado “A bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, no mistério de Cristo e da Igreja” não é por causa de uma simples devoção católica. Tal inserção não foi fruto do acaso, mas corresponde à orientação presente na Constituição. A relação entre Maria e a Igreja só é possível de ser compreendida enquanto a Mariologia se insere na eclesiologia, enquanto Maria é a imagem da Igreja. Lembramos que a Lumen Gentium se encerra com a teologia mariana, colocando Maria dentro do seu papel relevante discípula, mãe, mestra, e membro da Igreja.
O número 53 da Constituição sobre a Igreja afirma assim: “Efetivamente, a Virgem Maria, que na anunciação do Anjo recebeu o Verbo no coração e no seio, e deu ao mundo a Vida, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus Redentor. Remida dum modo mais sublime, em atenção aos méritos de seu Filho, e unida a Ele por um vínculo estreito e indissolúvel, foi enriquecida com a excelsa missão e dignidade de Mãe de Deus Filho; é, por isso, filha predileta do Pai e templo do Espírito Santo, e, por este insigne dom da graça, leva vantagem à todas as demais criaturas do céu e da terra. Está, porém, associada, na descendência de Adão, a todos os homens necessitados de salvação; melhor, «é verdadeiramente Mãe dos membros (de Cristo)..., porque cooperou com o seu amor para que na Igreja nascessem os fiéis, membros daquela cabeça» ¹. É, por esta razão, saudada como membro eminente e inteiramente singular da Igreja, seu tipo e exemplar perfeitíssimo na fé e na caridade; e a Igreja católica, ensinada pelo Espírito Santo, consagra-lhe, como a mãe amantíssima, filial afeto de piedade”(LG, 53).
Cabe aqui perfeitamente a reflexão sobre essa temática da LG, que tem aqui por título “A Virgem e a Igreja”(LG, 53-54). Procuraremos dedicar vários programas a esse aspecto importante na eclesiologia, a mãe de Cristo como Mãe da Igreja, nos aspectos relevantes que os santos padres conciliares apontaram a respeito da Mariologia.
Maria leva vantagem às demais criaturas, diz esse artigo da LG. Como afirmou Papa Paulo VI, hoje proclamado santo pela Igreja, Maria é “verdadeiramente Mãe dos membros de Cristo, porque cooperou com o seu amor para que na Igreja nascessem os fiéis, membros daquela cabeça, que é o seu filho Jesus. Todos nós nos tornamos filhos de Deus e membros da Igreja pelo batismo. Maria é membro eminente e inteiramente singular da Igreja, seu tipo e exemplar perfeitíssimo na fé e na caridade. Maria é o símbolo perfeito da cristã autêntica, filha predileta de Deus. É um arquétipo, retrato verdadeiro do cristão que é membro da Igreja, discípulo de Cristo. Se queremos ser verdadeiros cristãos, seguimos seus passos, que nos conduzem aos pés do verdadeiro Mestre. Por isso, diz o Concilio que a Igreja católica, ensinada pelo Espírito Santo, consagra-lhe, como a mãe amantíssima, filial afeto de piedade. Quem não poderá amar aquela que gerou, cuidou, educou o Salvador? Como não amar a mãe do Salvador? Como não venerar aquela que tanto amou a Jesus Cristo, se encarnou em seu ventre? Como não honrar a mãe que se foi sacrário do Altíssimo?"
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
__________________
¹ Paulo VI, Alocução no Concílio, no dia 4 dez. 1963: AAS 56 (1964) p. 37.
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui