O Cardeal Michael Czerny cumprimenta o Papa Francisco no encontro com os participantes da Assembleia Geral da Caritas Internationalis (Vatican Media) O Cardeal Michael Czerny cumprimenta o Papa Francisco no encontro com os participantes da Assembleia Geral da Caritas Internationalis (Vatican Media)

Cardeal Czerny: as mudanças foram necessárias e adequadas

“Que todos os caminhos que vocês seguirem promovam a reconciliação, deixando para trás as divisões e tensões do passado que lhes roubam a alegria do Evangelho, Evangelii Gaudium. Que vocês possam juntos traçar os melhores itinerários para continuar servindo como o rosto e o braço ‘amoroso’ da Igreja e, que a fé, a esperança e o amor os inundem e permeiem o serviço de vocês.”

Padre Pedro André, SDB – Vatican News

Está sendo realizada em Roma, de 11 a 16 de maio, a 22ª Assembleia Geral da Caritas Internationalis, da qual estão participando cerca de 400 delegados representando as 162 organizações da Caritas que trabalham em 200 países e territórios em todo o mundo. A Assembleia Geral da Caritas Internationalis (CI) é realizada a cada quatro anos, também para eleger o Presidente, o Secretário Geral, o Tesoureiro, o Conselho Executivo e o Conselho Representativo da Confederação. O tema da Assembleia Geral de 2023 é "Construir novos caminhos de fraternidade", inspirado na Carta Encíclica Fratelli tutti.

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Na manhã desta sexta-feira, 12 de maio, o cardeal Michael Czerny, SJ, falou à Assembleia, sobre fatos importantes que a antecederam, trazendo luz a questionamentos sobre o Decreto do Papa Francisco  que “tomou medidas drásticas em novembro do ano passado para resolver as deficiências nas operações da Secretaria Geral”. O cardeal iniciou dizendo: “tenho certeza de que todos vocês ficaram surpresos e perturbados com isso. Também tenho certeza de que querem que eu fale sobre o que aconteceu. Vocês precisam ter certeza de que as mudanças foram necessárias e adequadas. Se eu não der essa garantia, será difícil para vocês cumprirem suas responsabilidades nesta Assembleia com o necessário estado de espírito positivo.”

Quatro pontos para esclarecer

A primeira parte do discurso do cardeal foi divida em quatro pontos. O primeiro foi para “dizer o que a intervenção NÃO foi. Não foi um exame da CI em geral. Não foi para questionar as realizações admiráveis e necessárias da CI ou de qualquer um de seus membros. Acredito que isso esteja perfeitamente claro. Há muito tempo, eu conheço o imenso valor da Caritas” e afirmou que “a nomeação de um Administrador Temporário da Secretaria Geral e dos órgãos de governança em novembro passado nunca foi uma crítica ao bom trabalho realizado em toda a Confederação.”

O segundo ponto foi sobre o que desencadeou o processo, o cardeal disse que “muito simplesmente, algumas pessoas que trabalham na Secretaria Geral reclamaram de problemas no local de trabalho. Quantas, o que foi dito exatamente e por quem... esses são detalhes que preciso manter em sigilo. E, de fato, os detalhes não importam, porque as reclamações não levaram diretamente a nenhuma mudança. Em vez disso, elas foram o motivo para a realização de uma investigação sistemática. Aqui, peço que concordem que o bom trabalho excepcional da Caritas não justifica ou desculpa falhas graves na forma como a Secretaria Geral realiza suas tarefas diárias ou como trata os funcionários.”

O terceiro ponto tem ligações com o segundo pois “os problemas não podem ser reduzidos a algumas reclamações isoladas. Isso foi verificado em uma investigação que foi exaustiva em termos de número e variedade de entrevistas. Ninguém que quisesse falar foi ignorado. E a investigação não teve uma agenda oculta ou um resultado predeterminado. De fato, se tivesse sido demonstrado que as reclamações iniciais representavam a insatisfação de apenas alguns funcionários, as etapas seguintes teriam sido totalmente diferentes.”

A respeito do quarto ponto o cardeal disse: “(...) as descobertas revelaram padrões de relações e processos no local de trabalho que impediam o funcionamento adequado da Secretaria Geral; além disso, prejudicavam o bem-estar dos funcionários. Eles colocaram em risco as operações, o nome e a reputação, não apenas da Caritas Internationalis, mas de todas as Caritas. Assim, depois de considerar as conclusões da avaliação, o Papa fez mudanças na liderança; ele também encomendou uma revisão dos estatutos para que novas normas e práticas permitissem que os órgãos competentes da Confederação detectassem e resolvessem problemas futuros. O trabalho começou imediatamente; a cura começou, os estatutos foram revisados, o Secretariado pôde preparar esta Assembleia e a CI está preparada para funcionar e servir melhor no futuro.”

O cardeal fez um apelo aos participantes, para que aceitassem os quatro pontos, pois “(...) não se trata de uma crítica de tudo; reclamações sérias exigiram atenção; uma investigação competente revelou padrões de deficiências; isso representou perigos claros e reais que exigiram uma resposta vigorosa. Ainda assim, as mudanças ordenadas pelo papa foram drásticas para pessoas que vocês conheciam e apreciavam. Além disso, ele interveio em um momento delicado: A Caritas estava no meio de uma convenção para celebrar a cooperação fraterna; ninguém estava pensando em mudanças drásticas.”

Um ato de amor e cuidado 

Após fazer uso de uma parábola de sua autoria, para esclarecer ainda mais os fatos, o cardeal  a resumiu com as seguintes palavras: “a nomeação de um administrador temporário foi um ato de amor e cuidado, não uma denúncia, porque a Caritas está próxima do coração do Papa, da Igreja e do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral. Foi uma ação necessária para reparar e ajustar um órgão que é essencial para toda a Igreja (...). Logo após esta Assembleia Geral, a Administração Temporária, que começou no final de novembro, chegará ao fim, e vocês terão novamente a liderança eleita e nomeada de acordo com seus Estatutos” e acrescentou “o Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral está feliz por ter o mandato de acompanhar a Caritas Internationalis.”

O cardeal os motivou a seguir em frente, recordando que a por se tratar de uma organização a nível mundial, é mais difícil. “Haverá momentos em que o funcionamento será desajeitado e em que os esforços parecerão caros e ineficazes. Por favor, sejam pacientes. É assim que as famílias vivem e crescem, mesmo quando estão juntas e, principalmente, quando estão dispersas. As famílias são baseadas em relacionamentos de cuidado e amor mútuos, mas também são onde a tensão e a tristeza podem ser expressas. A CI é uma grande família com uma riqueza de potencial que nasce da fé e das diferenças. Há espaço para melhorias - esse sempre será o caso entre os seres humanos reais no mundo real - e todos querem que essa família Caritas prospere e cresça, como disse Jesus, e se torne "o maior dos arbustos, de modo que as aves do céu venham e façam ninhos em seus ramos" (Mt 13,33)

Após agradecer à Administração Temporária por seu trabalho, o cardeal concluiu dizendo: "que vocês possam juntos traçar os melhores itinerários para continuar servindo como o rosto e o braço "amoroso" da Igreja, e que a fé, a esperança e o amor os inundem e permeiem o serviço de vocês.”

 

 

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12 maio 2023, 12:30