Cardeal Grech: a Igreja está criando espaços para todos, sem excluir ninguém
Antonella Palermo - Vatican News
No final da tarde deste sábado (28), após o intenso último dia da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo sobre a Sinodalidade, que viu a aprovação do documento final em todos os seus parágrafos, foi realizada a última coletiva de imprensa na Sala de Imprensa do Vaticano para apresentar o texto de síntese dos trabalhos. Apresentados pela vice-diretora, a brasileira Christiane Murray, deram um parecer pessoal sobre o progresso dos trabalhos durante essas semanas e os resultados, o secretário geral, cardeal Mario Grech; o relator geral, cardeal Hollerich; e um dos dois secretários sspeciais, Padre Giacomo Costa.
Grech: vi que cada um criou espaço para o outro
O secretário geral, cardeal Mario Grech, expressou sua gratidão. "Obrigado pela paciência de vocês e pela maneira como nos acompanharam durante este mês. Para mim, este Sínodo permanecerá em minha memória como um Sínodo no qual ganhamos espaço. Um fruto que não termina hoje". Foi uma experiência de escuta, reiterou, observando a generosidade do compartilhamento: "vi que a maioria das pessoas criou espaços para que o outro pudesse entrar em seus corações".
Ele enfatizou o aspecto de reciprocidade da escuta. E contou que uma das frases que permanecerá gravada em seu coração foi a que um dos bispos presentes lhe disse: "ele me disse: 'vi o gelo quebrando'. Nas mesas, as pessoas iam se soltando lentamente". Ele ressaltou que, no decorrer do trabalho, ficou claro que a Igreja está saindo, que está "criando espaços para todos, sem excluir ninguém. Porque estamos vivendo o Evangelho". Ninguém pode deixar de se sentir aceito em sua casa.
O cardeal observou como hoje, na conclusão da Assembleia, havia "uma alegria que podia ser tocada". Grato por ter criado espaço para o Espírito Santo, recomendação do Papa desde o início, ele esperava que continuássemos nessa linha, para criar esses espaços.
Hollerich: o Sínodo nos tornou discípulos de Jesus
O relator geral, cardeal Jean-Claude Hollerich, contou uma anedota dos primeiros dias do Sínodo, que começou com o retiro espiritual para o qual os membros foram convidados: "alguns bispos não estavam felizes", admitiu ele. "Depois as coisas mudaram porque as pessoas ficaram profundamente tocadas pela forma como a experiência foi compartilhada". Uma experiência que, de acordo com o arcebispo de Luxemburgo, realmente fez discípulos de Jesus, todos juntos. "Acredito que as pessoas, ao voltarem para casa, levarão seus corações cheios de esperança, com muitas ideias e estou ansioso para encontrá-las no próximo ano."
Costa: as guerras no mundo nos tiraram da autorreferencialidade
Um dos dois secretários especiais, Padre Giacomo Costa, enfatizou que, "como Igreja, demos passos concretos ao nos unirmos como um só Corpo no Espírito Santo". Um dom, destacou, "certamente para toda a Igreja, mas também para toda a humanidade".
O jesuíta não deixou de mencionar o clima particularmente doloroso em que o trabalho foi realizado, com as guerras em andamento que eclodiram neste mesmo mês, as situações de violência e "as histórias de nossos irmãos que não puderam nos deixar em paz, não puderam nos deixar em uma condição de autorreferencialidade".
O Padre Costa destacou a riqueza de perspectivas que surgiram nesta assembleia que terminou neste sábado (28), o que ele considera "um presente para a esperança de todos: poder dizer que é possível falar uns com os outros, discordar e depois abraçar e recomeçar juntos". O desejo é que essa semente possa dar frutos para todos.
Respeitar o ritmo de todos, isso é sinodalidade
Entre as perguntas feitas pelos jornalistas, algumas diziam respeito aos resultados das votações sobre determinadas questões, como o celibato ou as mulheres na Igreja, questões que, como foi salientado, permanecem "em aberto". O cardeal Grech, a esse respeito, admitiu que há pontos em que não há um acordo total e outros em que ainda há algum caminho a percorrer. "Isso não me surpreende", acrescentou.
Também foi levantada a questão do porquê ainda levaria tempo para discutir tópicos como a homossexualidade. Hollerich e, com ele, Grech, repetiram que todos os parágrafos foram aprovados. Em particular, o cardeal maltês, lembrando a extraordinária harmonia na Sala, destacou que "somos uma família e devemos respeitar os passos de todos. Caminhamos juntos. Esse é o conceito de sinodalidade".
O importante é que haja liberdade e abertura na Igreja
Com relação ao método de conversa espiritual usado no trabalho, o Padre Costa observou como ele foi adequado, pois conseguiu tocar em questões importantes. No entanto, ele acrescentou que, em fases futuras, outro método poderia ser escolhido, justamente porque envolve um trabalho diferente. Solicitado por um jornalista, o próprio Costa interveio para apontar que há diferenças entre as categorias terminológicas que não aparecem no documento final em comparação com os documentos dos sínodos anteriores. Para o Cardeal Hollerich, uma vez que o documento redigido é algo sobre o qual se pode construir, foi considerado mais sensato concentrar-se nos pontos em que houve convergência. Para Costa, "divergências" não era apropriado para definir a dinâmica que surgiu durante o trabalho, por isso foi abandonado. "Há outras questões que são muito importantes para algumas pessoas e devem continuar sendo importantes para essas pessoas", comentou Hollerich novamente, enfatizando que isso não significa que uma Igreja sinodal aceitará tudo, mas que o importante é que haja liberdade e abertura.
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