Busca

Foto de arquivo: processo sobre a gestão dos fundos da Santa Sé (Vatican Media) Foto de arquivo: processo sobre a gestão dos fundos da Santa Sé (Vatican Media)

Processo vaticano. Defesa de Torzi: construído um castelo de conjecturas

Concluída a intervenção final da defesa de Gianluigi Torzi. Os advogados Mario Zanchetti e Marco Franco pediram, com a alegada ausência do crime, a absolvição total de seu cliente, acusado de suborno, peculato agravado, fraude agravada, apropriação ilícita agravada, lavagem e autolavagem de dinheiro, e extorsão agravada. Esta quarta-feira, a palavra aos advogados do cardeal Angelo Becciu

Barbara Castelli – Vatican News

Só há uma maneira de ver as coisas, que é vê-las em sua totalidade": "para reconstruir um caso corretamente, é preciso confrontar todas as provas, todos os elementos". O promotor de Justiça, ao invés, "com base em quatro peças, selecionadas por ele, e descartando cuidadosamente todas as peças probatórias que não se encaixavam, construiu um castelo muito bonito, mas totalmente inventado". Essa foi a afirmação do advogado Mario Zanchetti, defendendo Gianluigi Torzi, juntamente com Marco Franco, durante a septuagésima nona audiência do processo sobre os investimentos financeiros da Secretaria de Estado em Londres. Na sala de audiências multifuncional dos Museus Vaticanos, entre os réus, estavam presentes Enrico Crasso e Fabrizio Tirabassi. A audiência desta terça-feira seguiu os passos da que foi realizada no dia 8 deste mês de novembro, durante a qual o advogado Matteo Santamaria apresentou algumas das questões de defesa do corretor da região italiana do Molise, para quem Alessandro Diddi havia pedido 7 anos e 6 meses de prisão, interdição perpétua de cargos públicos e uma multa de 9.000 euros.

O jogo das partes

Uma dificuldade adicional deste processo, além da quantidade de material probatório, observou o advogado, que falou primeiro durante a audiência, é que "nos deparamos com a inutilidade substancial da investigação pré-julgamento": "Quase todas as audiências dedicadas à audição das testemunhas de acusação devem ser jogadas no lixo, porque quase todas as testemunhas de acusação, públicas ou privadas, vieram aqui e, sob juramento, nos disseram coisas que eram claramente não verdadeiras". "E disseram coisas que não são verdadeiras não por acaso - continuou ele, citando, entre outros, Giuseppe Maria Milanese, monsenhor Alberto Perlasca, Luca Dal Fabbro, Luciano Capaldo -, não porque sejam mentirosas em série, mas porque todas elas eram pessoas que desempenhavam uma parte na comédia e que vieram a esta sala de audiência para defender seu papel, não a verdade".

Devido processo legal e direitos humanos

O advogado Mario Zanchetti, enumerando as acusações, delineadas e declinadas também através do horizonte jurídico de outras nações, referiu-se novamente à ordem do Tribunal do Estado da Cidade do Vaticano de 1º de março de 2022, pedindo que fosse revisada, sobretudo à luz do artigo 5 da Convenção Europeia de Direitos Humanos, sobre o direito à liberdade e à segurança. "Esta sentença não pode permanecer privada - disse o advogado, lembrando as infinitas intervenções de pontífices anteriores sobre o devido processo -, qualquer medida sancionatória que este colégio adote será depois analisada pelos juízes de outros países, que avaliarão se o Estado da Cidade do Vaticano respeita os princípios da Convenção sobre Direitos Humanos".

A "boa fé" de Gianluigi Torzi

Mais uma vez, na sala de audiências, acumularam-se chats e documentos de vários tipos, que - nas palavras dos advogados de defesa - esboçaram uma perspectiva diferente, no que tange às verdadeiras intenções de Gianluigi Torzi, proprietário da corretora luxemburguesa Gutt Sa, com a Secretaria de Estado; às relações com Raffaele Mincione, também e sobretudo em relação à questão do Banco Carige; ou às supostas dificuldades econômicas em que o réu se encontrava. "Se as coisas não são verdadeiras - insistiu o advogado Marco Franco -, elas têm uma explicação alternativa": não houve "nenhuma fantasmática conspiração por parte de Torzi e Mincione", eles "queriam mudar o título do investimento e ter mais garantias" e "sentiram que Torzi era a pessoa certa".

 

O advogado examinou repetidamente os documentos que caracterizam o caso da propriedade londrina da Sloane Avenue, que inicialmente pertencia ao Athena Capital Global Opportunities Fund, do financista Raffaele Mincione, e depois passou para a Gutt Sa, de Gianluigi Torzi, que detinha as mil ações com direito a voto. "É impossível argumentar que essas mil ações não foram entendidas, que Torzi as possuía com direito a voto e os outros não - disse Marco Franco -, isso estava escrito em toda parte no Acordo-Quadro". E, mais ainda, em um chat do réu em 23 de novembro, imediatamente após as negociações em Londres, "quando as coisas já estavam feitas", "fica claro que Torzi antes não sabia sobre as mil ações" e se vê a "boa fé de Torzi". O advogado reiteradas vezes pediu a todos que "não raciocinassem em retrospectiva", "mas que lessem os documentos na íntegra". O monsenhor Edgar Peña Parra, substituto para Assuntos Gerais da Secretaria de Estado, acrescentou, estava "sempre informado" sobre tudo o que estava acontecendo na gestão, como mostram os relatórios periódicos: "Torzi sempre cuidou do edifício" e "não há um único ato que mostre que Torzi não tinha a vontade de devolver as ações. Falou-se apenas de compensação justa". As mil ações, foi explicado, tinham um valor total de 10 milhões de euros, e os 5 milhões de euros eram a previsão da "perda de lucro".

Pedido de absolvição para Torzi

Por fim, o advogado Marco Franco falou longamente sobre Luciano Capaldo, descrevendo-o como "um personagem verdadeiramente inquietador". O homem, segundo o advogado, é responsável pelo "processo demolição da imagem de Torzi", implementado para "colocar as mãos nos negócios da Secretaria de Estado", com a cumplicidade de Luca Dal Fabbro e Fabrizio Tirabassi. Em conclusão, foi solicitada a "absolvição pela inexistência dos crimes" e a "restituição dos bens apreendidos". Esta quarta-feira, falam os advogados de defesa do cardeal Angelo Becciu, Maria Concetta Marzo e Fabio Viglione.

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui

22 novembro 2023, 11:33