Chegada do Natal, espanto e maravilha
Pe. Gerson Schmidt*
"Em novembro passado, comemorou-se os 800 anos da criação do primeiro presépio registrado nos anais da história da humanidade, que foi montado com personagens vivos, a pedido de São Francisco de Assis. Para essa data significativa, o Papa Francisco escreveu e publicou da cidade do Vaticano, em 27 de setembro de 2023, a Carta Apostólica Admirabile Signum, escrevendo sobre o sentido e o significado do presépio nos nossos dias.
O Papa, nesta Carta Apostólica, diz haver dois sinais que, no Natal, nos guiam para reconhecer Jesus. Um deles é o céu cheio de estrela, que brilha guiando-nos para verdadeira luz, que é Jesus. O povo que jazia nas trevas viu no céu uma grande luz, diz o Arcanjo Gabriel aos pastores de Belém que apascentavam o seu rebanho. Outro sinal é a precariedade de Deus, o Deus poderoso que se faz frágil, indefeso, necessitado. Diz o Papa Francisco: “Naquela noite que se tornou santa pelo nascimento do Salvador encontramos um outro sinal poderoso: a pequenez de Deus.
Mas, nessa carta apostólica, o Sumo Pontífice não aponta apenas esses dois sinais. Diz que o Advento do Natal nos prepara também para dois sentimentos: “Espanto e maravilha são os dois sentimentos que emocionam todos, pequenos e grandes, perante o presépio, que é como um Evangelho vivo que transborda das páginas da Sagrada Escritura. Não interessa como se arranja o presépio, se é sempre igual ou diferente todos os anos; o que importa é que ele fale à nossa vida”. Uma ideia interessante na pastoral de nossas comunidades cristãs, que no Brasil realizam a iniciação da Vida Cristo (o método do IVC em 4 anos seguidos com inúmeros ritos e entregas), seria envolver as crianças e jovens da catequese para a confecção do presépio em nossas comunidades. A própria preparação do presépio já concretiza o próprio encontro semanal e traz aos catequizandos uma pedagogia singular. Nesse sentido, o liturgista Dom Jerônimo dizia no Congresso Eucarístico Teológico Internacional na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, que o Rito na Igreja primitiva constituiu a Igreja e as homilias nasciam das importantes pias batismais e das noites da Páscoa. Também no presépio, contemplando a encarnação do Verbo divino, nasce a Igreja dos sacramentos e sacramentais, mergulhados que somos na profundidade daquela noite santa de Belém, onde nosso coração também se faz presépio, manjedoura, Belém e uma humilde estrebaria.
É por esta razão – diz Francisco - que procurar guardar o espírito do presépio se torna uma imersão salutar na presença de Deus, que se manifesta nas pequenas coisas, por vezes banais e repetitivas, do quotidiano. Saber renunciar àquilo que seduz, mas leva por maus caminhos, e escolher os caminhos de Deus é a tarefa que nos espera. Para este efeito, o discernimento é um grande dom e nunca nos devemos cansar de o pedir na oração. No presépio, os pastores são aqueles que acolhem a surpresa de Deus e vivem com espanto o encontro com Ele, adorando-O: na pequenez reconhecem o rosto de Deus. Humanamente, somos todos impelidos a procurar a grandeza, mas é um dom saber encontrá-la de verdade: conseguir encontrar a grandeza naquela pequenez que Deus tanto ama”, escreve o Papa Francisco.
O primeiro biógrafo de São Francisco, Tommaso de Celano, descreve a noite de Natal de 1223, cujo oitavo centenário festejamos este ano. Quando Francisco chegou, encontrou o berço com a palha, a vaca e o burrinho. As pessoas que acorreram manifestaram uma alegria indescritível, nunca antes experimentada, perante aquela cena de Natal. Depois o sacerdote celebrou solenemente a Eucaristia sobre a manjedoura, mostrando assim a ligação entre a Encarnação do Filho de Deus e a Eucaristia. Em Greccio não existia então nenhuma figura: o presépio foi feito e vivido pelos próprios presentes. Estou certo - Papa Francisco reitera - de que o primeiro presépio, que realizou uma grande obra de evangelização, pode ocasionar ainda hoje espanto e maravilha. Assim, o que São Francisco de Assis realizou com a simplicidade daquele gesto permanece nos nossos dias uma forma genuína da beleza da nossa fé́”.
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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