Sínodo: fazer caminho para levar as pessoas ao coração de Deus
Rui Saraiva – Portugal
Foi no espirito da síntese sinodal da primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos bispos, que a Secretaria Geral do Sínodo publicou recentemente indicações sobre os passos a dar nos meses que nos separam da segunda sessão que decorrerá em Roma no mês de outubro deste novo ano de 2024.
Para as Igrejas locais e Conferências Episcopais foi proposta uma pergunta orientadora da reflexão: como ser Igreja sinodal em missão?
O Relatório de Síntese é a base dessa reflexão e propõe um texto que “recolhe as convergências, as questões a aprofundar e as propostas que surgiram do diálogo” desenvolvido na primeira sessão do Sínodo em Roma.
Realidade de homens e mulheres foi escutada
Sobre esta primeira síntese sinodal e sobre o trabalho a desenvolver, continuamos a publicar aqui a análise do padre Sérgio Leal, especialista em sinodalidade.
O sacerdote português sublinha a importância do Relatório de Síntese para a fase de reflexão que em 2024 prepara a segunda sessão do Sínodo. Diz que encontra neste Relatório o contributo das paróquias e dos grupos, sinal de que a realidade dos homens e das mulheres foi escutada.
“Nesta síntese, nós revemo-nos nela e encontramos a nossa realidade presente nela, o que significa da importância que teve o caminho precedente até chegar a ela. Que este caminho de escuta não foi em vão. Que era aquilo que no início me diziam: ‘vai mesmo valer a pena reunirmos a nossa paróquia ou grupo e fazer uma síntese? O que é que isto vai ter depois no caminho concreto do Sínodo universal?’. E lendo o texto digo que tem que ver, sim senhor. Aquilo que eu fiz na minha paróquia, nos relatórios que fui lendo em Portugal, nós percebemos que a realidade dos homens e mulheres que foram escutados está presente neste Relatório de Síntese. E por isso é que não o podemos ignorar de maneira nenhuma. Portanto, como este caminho já começou há muito tempo, nós temos sempre ainda muito a fazer.
Bastava pensar que tendo um relatório diocesano ou relatório nacional, onde foi escutada a realidade concreta e encarnada, temos aí já matéria para muito trabalho sem esperar este Relatório de Síntese. Por maioria de razão, com o contributo da Igreja Universal que ajudou a refletir tantos pontos que já tínhamos levantado na nossa síntese nacional, então agora teremos de avançar.
Quando eu leio este relatório e vejo questões que são para aprofundar e que vêm, algumas delas, em jeito de interrogação, há quase um dever de consciência de nos debruçarmos sobre isto e refletir. E vamos sobretudo fazer caminho”, declarou o sacerdote.
Entrar em diálogo com a realidade contemporânea
O padre Sérgio Leal destaca a organização do Relatório de Síntese nas suas convergências, questões em aberto e propostas.
“Em primeiro lugar, a forma como é apresentada: para cada tema temos convergências, as questões que estão em aberto e quais as propostas. Estamos numa primeira assembleia a que se segue uma segunda e neste tempo intermédio estamos a aprofundar e a alargar a reflexão sobre aquilo que foi discutido e conversado. Seria interessante que isto voltasse ao povo de Deus. Se possível, que se fizesse um mesmo percurso a partir das bases. E sobretudo perceber que aquilo que um Sínodo faz não é perceber o que cada um pensa, mas o que é que somos capazes de pensar em conjunto. O que é que em conjunto conseguimos discernir do que o Senhor nos está a pedir.
Quando falamos que este Sínodo será o evento mais importante depois do Concílio Vaticano II é para dizer que o exercício é precisamente o mesmo do Concílio. Este não foi convocado para esclarecer a doutrina, para debater algum dogma, é um Concílio da Igreja ao serviço do mundo e da realidade contemporânea e de como a Igreja pode entrar em diálogo com a cultura contemporânea. E este Sínodo tem que ser isso mesmo e ao vermos este Relatório de Síntese percebe-se isso mesmo: uma Igreja que está consciente da sua missão, isto é, nasce do coração de Deus, foi revelada em Jesus Cristo e é animada pelo Espirito Santo. Mas por ser assim, tem que estar ao serviço do mundo e da realidade concreta. Ao serviço de Deus e das pessoas. Por estar ao serviço de Deus está ao serviço das pessoas. E porque quer levar as pessoas ao coração de Deus coloca-se a caminho com os homens e as mulheres de hoje”, afirmou.
A bênção é uma oportunidade pastoral
Colhendo uma temática de grande atualidade, que foi objeto de um recente documento do Dicastério para a Doutrina da Fé sobre o significado pastoral das bênçãos e que provocou algumas reações negativas, recuperamos declarações do padre Sérgio Leal ao jornalista Henrique Cunha da Rádio Renascença. O professor da Universidade Católica Portuguesa considera que uma bênção é uma oportunidade pastoral para acolher e estabelecer diálogo.
“O Papa Francisco tem este desejo, que é o desejo da Igreja, que seja mãe, casa para todos, lugar de acolhimento, e este documento creio que vem neste sentido. De uma Igreja que não deixa ninguém à margem e que procura acolher a todos. Eu creio que é fundamental, no contexto deste documento, situá-lo também no interior do Magistério do Papa, onde este “todos, todos, todos”, não é apenas um ente abstrato, mas um lugar de concretização daquilo que o Papa já na Amoris Laetitia propõe a partir de três verbos: acolher, acompanhar e integrar.
Objetivamente, o documento refere que, do ponto de vista doutrinal, a Igreja tem um projeto de matrimónio e de família, que é muito claro. Contudo, isto não impede de acolher a todos e de caminhar com todos, mas, evidentemente, que esta, em primeiro lugar, é uma proposta de acolhimento, porque muitos se irão aproximar, porque procuram uma bênção que é sinal da proximidade de Deus e da proximidade da Igreja para com todos.
E creio que aqui é que se encontra a oportunidade pastoral e a missão particular para cada pastor, que é a missão de os acolher, de estabelecer um diálogo com eles, de conhecer a sua real situação, de apontar caminho, de os ajudar a caminhar na vida da fé, neste exercício de acolher, acompanhar e integrar.
Claro que é um desafio muito exigente, porque isto implica tempo, e, portanto, creio que isto pode ser uma oportunidade como proposta para que a Igreja se torne, à luz do mistério que vamos celebrar, do mistério de Natal, um lugar sempre de acolhimento e de proximidade”, afirmou.
Inquietações presentes nas sínteses sinodais
O padre Sérgio Leal recorda que este documento do Dicastério para a Doutrina da Fé é, de alguma forma, uma resposta a inquietações presentes nas sínteses do caminho sinodal que a Igreja está a percorrer.
“Nós estamos num caminho sinodal e é no interior do caminho sinodal que sai esta declaração. E de alguma maneira podemos dizer, esta declaração é a resposta a inquietações que já estavam bastante presentes nas sínteses diocesanas, na síntese nacional portuguesa, mas de outros países, da preocupação do acolhimento dos casais homossexuais, dos divorciados recasados e de outras situações. E, portanto, assim como isto, como esta resposta aparece no contexto do caminho sinodal, o modo de a colocar em prática deve ter também esta dinâmica sinodal. Se por um lado recai sobre o pastor, que é aquele que deve dar a bênção, deve recair também nas comunidades, não é? Cabe também ao pastor formar a comunidade como lugar de acolhimento, como espaço de comunhão, de partilha, de encontro”, explicou o padre Sérgio Leal.
Os debates e reflexões nas dioceses neste ano 2024 devem partir do Relatório de Síntese da assembleia sinodal que é fruto do longo processo de escuta iniciado a 9 de outubro de 2021 e que envolveu etapas diocesanas, nacionais e continentais.
“Por uma Igreja sinodal: comunhão participação e missão” é o tema do Sínodo.
Laudetur Iesus Christus
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