Ano Jubilar - O tempo litúrgico não é monotonia - Quaresma
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
Em preparação à abertura do Ano Jubilar, e atendendo um pedido do Papa Francisco, o Dicastério para a Evangelização lançou no início de 2023 a coletânea sobre o Concílio Vaticano II intitulada “Jubileu 2025 – Cadernos do Concílio”, com o objetivo de promover uma redescoberta do evento conciliar e seu significado para a vida da Igreja em todos esses sessenta anos.
Abrindo um novo ciclo de programas, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão Ano Jubilar, o tempo litúrgico não é monotonia. Quaresma
"Na publicação dos Cadernos do ConcÍlio do Dicastério para a Evangelização – Seção para as questões Fundamentais da Evangelização no Mundo – o Papa Francisco faz uma introdução geral a esses subsídios ágeis e eficazes, que percorrem os temas fundamentais das quatro constituições conciliares: Lumen Gentium, Sacrosanctum Concilium, Dei Verbum e Gaudium et Spes. São Quatro pilares fundamentais da nossa fé católica e a nossa missão no mundo atual: A Igreja – LG; A liturgia – SC; a Palavra – DV e a Evangelização - GS – A missão da Igreja no mundo atual. Nessa introdução a esses cadernos práticos e acessíveis, de linguagem usual e direta, de fácil compreensão ao povo simples e leigos também engajados, o Papa utiliza um pensamento do Papa Paulo VI na homilia na sétima Sessão Solene do Concilio Vaticano II, por ocasião da promulgação de cinco documentos. São Paulo VI pregava assim em pleno vigor e despontar das conclusões do Concílio, segurando firme a barca de Pedro em pleno mar revolto: “A Igreja vive! A prova está aqui, está aqui o alento, a sua voz, o seu canto. A Igreja vive(...) A Igreja pensa, a Igreja fala, a Igreja cresce, a Igreja continua a edificar-se(...). A Igreja vem de Cristo e vai para Cristo, e estes são os seus passos, isto é, os atos cm que se aperfeiçoa, se confirma, se desenvolve, se renova, se santifica. Todo este esforço perfectivo da Igreja não é outra coisa, se bem se entende, senão uma expressão de amor a Cristo Nosso Senhor”.
O Papa Francisco diz que essas palavras de São Paulo VI nos impelem hoje a considerar a importância do ensinamento conciliar e que retomar esses textos em mãos é sinal da vivacidade e da fecundidade da Igreja. Escreveu assim o Sumo Pontífice na introdução desses cadernos do ConcÍlio: “A renovação das comunidades e o empenho de conversão pastoral passa necessariamente por tornar próprios os ensinamentos do Vaticano II”[1]. O Documento de Aparecida pois fala da conversão pastoral no número 370, traduzindo-a como uma volta decidida à missão, identidade da Igreja: "A CONVERSÃO PASTORAL de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária. Assim será possível que o único programa do Evangelho continue introduzindo-se na história de cada comunidade eclesial com novo ardor missionário, fazendo com que a Igreja se manifeste como mãe que vai ao encontro, uma casa acolhedora, uma escola permanente de comunhão missionária"(Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe – Aparecida, 370).
A Igreja vive, a partir da Quarta-feira de Cinzas, um novo tempo litúrgico, o Tempo da Quaresma, caminhada de conversão, oração, jejum, penitência e caridade, expressada concretamente pela esmola que fazemos, na partilha dos bens com alegria e compromisso com os pobres. No Brasil é tempo forte para uma grande Campanha de Caridade e busca de justiça chamada “Campanha da Fraternidade”, que faz aguçar a solidariedade num setor um tanto esquecido na sociedade.
Nos cadernos do Concílio, de número 13 das Edições da CNBB, aponta-se que “o Ano Litúrgico não é reprodução de um filme sobre acontecimentos do passado, mas a participação na história de Jesus mediante a comunhão com o Ressuscitado ao longo do tempo. Aqueles eventos que a Igreja nos faz celebrar todos os anos não são acontecimentos arquivados no baú da história, porque – como dizia São Leão Magno – “aquele dia não passou de tal maneira que também passasse a força interior na obra que então foi realizada pelo Senhor”. E santo Agostinho argumenta: “aquilo que aconteceu uma vez na realidade histórica, a solenidade litúrgica o celebra de modo recorrente e assim o renova no coração dos fiéis”. Essa Passagem e essa Páscoa Cristo quer realizar entre nós por meio dos diversos tempos litúrgicos em que vivemos, celebramos e neles ressuscitamos. A repetição dos ciclos litúrgicos não deve ser vista como “uma monotonia, como se fosse um eterno retorno dos mesmos eventos salvíficos, mas como uma abertura progressiva rumo ao eterno infinito de Deus”. São Leão Magno gostava de dizer que “no retorno cíclico de cada ano, o mistério da nossa salvação é reatualizado para nós: mistério que, prometido desde o início e finalmente levado a cumprimento, continuará sem nunca terminar”[2].
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
____________________________
[1] Cadernos do Concílio, Jubileu 2025, n.1, O Vaticano II, História e Significado para a Igreja, Edições CNBB, p. 7-8.
[2] Cadernos do Concílio, Jubileu 2025, n.13. Os tempos fortes do Ano Litúrgico, Edições CNBB, p. 11.
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui