O Mistério da Salvação que perpassa a história
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
Por antiga tradição a Vigília Pascal é “a noite de vigília em honra do Senhor”, destinada a celebrar a noite santa em que Cristo ressuscitou, e é considerada a “mãe de todas as santas vigílias”. A vigília desta noite é a mais importante e nobre de todas as solenidades, é única em cada igreja. Os fiéis, tendo nas mãos velas acesas, são semelhantes aos que esperam a volta do Senhor, para que, quando ele vier, os encontre ainda vigilantes e os faça sentar à sua mesa.
Depois de "A noite prolongada da Vigília Pascal", Pe. Gerson Schmidt* nos propõe a reflexão "O Mistério da Salvação que perpassa a história":
"No Sábado solene de Aleluia, a liturgia é especial, rica e profunda. O cristão católico que não participa da Vigília Pascal, perde a essência da celebração principal que circunda todos as outras liturgias. Não compreende o centro principal da fé se não se mergulha na noite das noites. O Catecismo da Igreja Católica, falando do ANO LITÚRGICO, descreve assim sobre essa solenidade principal, no número 1169: “É por isso que a Páscoa não é simplesmente uma festa entre outras: é a «festa das festas», a «solenidade das solenidades», tal como a Eucaristia é o sacramento dos sacramentos (o grande sacramento). Santo Atanásio chama-lhe «o grande domingo», tal como a Semana Santa é chamada no Oriente «a semana maior». O mistério da Ressurreição, em que Cristo aniquilou a morte, penetra no nosso velho tempo com a sua poderosa energia, até que tudo Lhe seja submetido”.
Na Vigília Pascal, a liturgia recupera um ritual antigo da Igreja chamado Lucernário, o primeiro momento de quatro grandes partes da Vigília Pascal, a saber: Rito da Luz, Liturgia da Palavra, Rito Batismal, Liturgia Eucarística. Na bênção do Fogo novo e do Círio Pascal há elementos importantes a serem destacados nessa abordagem que fazemos. Aponta assim a reflexão dos Cadernos do concilio:
“[ Naquele grande prelúdio da Vigília Pascal, que é o Lucernário, no final da benção do fogo, enquanto traça uma cruz no Círio Pascal, o celebrante diz: "Cristo, ontem e hoje, Princípio e Fim"(Missal Romano). Então, acima da Cruz, ele traça pronunciando a letra Alfa e, da mesma forma traça, sobre a cruz, a letra Ômega. Ele, então, grava os quatro dígitos do ano atual, dentro da Cruz, proclamando: “A Ele o tempo e a eternidade a glória e o poder pelos séculos Sem Fim". No Círio, símbolo da luz que é o Corpo glorioso do Ressuscitado, a Igreja não Só grava os sinais da Paixão de Cristo, mas há séculos grava o Alfa e o Ômega, os sinais do tempo do seu início ao seu fim, afirmando que Cristo é o Senhor do tempo. A presença de Cristo e de cada acontecimento salvífico da sua vida histórica nas festas e nos tempos do ano litúrgico faz dos tempos litúrgicos períodos de graça e de salvação. Nesse sentido, portanto, a comunidade dos fiéis é chamada a viver o tempo que passa à luz mistério de Cristo, prenhe de salvação; todos os anos, no regresso de um novo ciclo litúrgico, é chamada a escrever a sua história de salvação, continuando sem parar o seu caminho de conversão e seguimento de Cristo. Por essa razão, a alma "percorre verdadeiramente o ano Místico como um mistério, em união com sua própria mãe, que é precisamente a Igreja, tudo o que está contido no ano se tornará realidade operante nela [1]. ]
Tudo o que contido no ano litúrgico operante na mãe Igreja, é percorrido de maneira verdadeira pela alma dos fiéis no ano místico como um mistério, celebrado e aprofundado de ano a ano, de celebração em celebração, liturgia em liturgia. Essa afirmativa é de Odo Casel, teólogo e liturgo[2].
O comentário nos cadernos do Concílio, de número 13 das Edições da CNBB do número 102 da Sacrosanctum Concilium diz assim: “esse número do texto conciliar responde a uma pergunta: o evento pascal aconteceu ‘uma vez por todas’ e pode ser historicamente situado em um intervalo de tempo de cerca de dois milênios, como podemos ser alcançados por ele hoje? O Concílio afirma que, nas celebrações do ano litúrgico, entramos em contato com os mistérios da vida de Jesus a graça da salvação. Santo Tomás de Aquino usa um termo latino e diz que o mistério presencialiter attingit omnia et tempora – ou seja “atinge presencialmente todos os lugares e todos os tempos”. Isso permite de todos nós sermos contemporâneos do evento que se celebra.
[1] Cadernos do Concílio, Jubileu 2025, n.13. Os tempos fortes do Ano Litúrgico, Edições CNBB, p. 53-54.
[2] CASEL, Odo. Il mistero del culto cristiano, 1985, p.119. In: Cadernos do Concílio, Jubileu 2025, n.13. Os tempos fortes do Ano Litúrgico, Edições CNBB, p. 54.
_________________
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui