Fiéis na Basílica do Santo Sepulcro aguardam início da celebração do Sábado Santo (Photo by Emmanuel Dunand) Fiéis na Basílica do Santo Sepulcro aguardam início da celebração do Sábado Santo (Photo by Emmanuel Dunand)  (AFP or licensors)

O Mistério da Salvação que perpassa a história

"Tudo o que contido no ano litúrgico operante na mãe Igreja, é percorrido de maneira verdadeira pela alma dos fiéis no ano místico como um mistério, celebrado e aprofundado de ano a ano, de celebração em celebração, liturgia em liturgia."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

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Por antiga tradição a Vigília Pascal é “a noite de vigília em honra do Senhor”, destinada a celebrar a noite santa em que Cristo ressuscitou, e é considerada a “mãe de todas as santas vigílias”. A vigília desta noite é a mais importante e nobre de todas as solenidades, é única em cada igreja. Os fiéis, tendo nas mãos velas acesas, são semelhantes aos que esperam a volta do Senhor, para que, quando ele vier, os encontre ainda vigilantes e os faça sentar à sua mesa.

Depois de "A noite prolongada da Vigília Pascal", Pe. Gerson Schmidt* nos propõe a reflexão "O Mistério da Salvação que perpassa a história":

 

"No Sábado solene de Aleluia, a liturgia é especial, rica e profunda. O cristão católico que não participa da Vigília Pascal, perde a essência da celebração principal que circunda todos as outras liturgias. Não compreende o centro principal da fé se não se mergulha na noite das noites. O Catecismo da Igreja Católica, falando do ANO LITÚRGICO, descreve assim sobre essa solenidade principal, no número 1169: “É por isso que a Páscoa não é simplesmente uma festa entre outras: é a «festa das festas», a «solenidade das solenidades», tal como a Eucaristia é o sacramento dos sacramentos (o grande sacramento). Santo Atanásio chama-lhe «o grande domingo», tal como a Semana Santa é chamada no Oriente «a semana maior». O mistério da Ressurreição, em que Cristo aniquilou a morte, penetra no nosso velho tempo com a sua poderosa energia, até que tudo Lhe seja submetido”.

Na Vigília Pascal, a liturgia recupera um ritual antigo da Igreja chamado Lucernário, o primeiro momento de quatro grandes partes da Vigília Pascal, a saber: Rito da Luz, Liturgia da Palavra, Rito Batismal, Liturgia Eucarística. Na bênção do Fogo novo e do Círio Pascal há elementos importantes a serem destacados nessa abordagem que fazemos.  Aponta assim a reflexão dos Cadernos do concilio:

[ Naquele grande prelúdio da Vigília Pascal, que é o Lucernário, no final da benção do fogo, enquanto traça uma cruz no Círio Pascal, o celebrante diz: "Cristo, ontem e hoje, Princípio e Fim"(Missal Romano). Então, acima da Cruz, ele traça pronunciando a letra Alfa e, da mesma forma traça, sobre a cruz, a letra Ômega. Ele, então, grava os quatro dígitos do ano atual, dentro da Cruz, proclamando: “A Ele o tempo e a eternidade a glória e o poder pelos séculos Sem Fim". No Círio, símbolo da luz que é o Corpo glorioso do Ressuscitado, a Igreja não Só grava os sinais da Paixão de Cristo, mas há séculos grava o Alfa e o Ômega, os sinais do tempo do seu início ao seu fim, afirmando que Cristo é o Senhor do tempo. A presença de Cristo e de cada acontecimento salvífico da sua vida histórica nas festas e nos tempos do ano litúrgico faz dos tempos litúrgicos períodos de graça e de salvação. Nesse sentido, portanto, a comunidade dos fiéis é chamada a viver o tempo que passa à luz mistério de Cristo, prenhe de salvação; todos os anos, no regresso de um novo ciclo litúrgico, é chamada a escrever a sua história de salvação, continuando sem parar o seu caminho de conversão e seguimento de Cristo. Por essa razão, a alma "percorre verdadeiramente o ano Místico como um mistério, em união com sua própria mãe, que é precisamente a Igreja, tudo o que está contido no ano se tornará realidade operante nela [1]. ]

Tudo o que contido no ano litúrgico operante na mãe Igreja, é percorrido de maneira verdadeira pela alma dos fiéis no ano místico como um mistério, celebrado e aprofundado de ano a ano, de celebração em celebração, liturgia em liturgia. Essa afirmativa é de Odo Casel, teólogo e liturgo[2].

O comentário nos cadernos do Concílio, de número 13 das Edições da CNBB do número 102 da Sacrosanctum Concilium diz assim: “esse número do texto conciliar responde a uma pergunta: o evento pascal aconteceu ‘uma vez por todas’ e pode ser historicamente situado em um intervalo de tempo de cerca de dois milênios, como podemos ser alcançados por ele hoje? O Concílio afirma que, nas celebrações do ano litúrgico, entramos em contato com os mistérios da vida de Jesus a graça da salvação. Santo Tomás de Aquino usa um termo latino e diz que o mistério presencialiter attingit omnia et tempora – ou seja “atinge presencialmente todos os lugares e todos os tempos”. Isso permite de todos nós sermos contemporâneos do evento que se celebra.

[1] Cadernos do Concílio, Jubileu 2025, n.13. Os tempos fortes do Ano Litúrgico, Edições CNBB, p. 53-54.
[2] CASEL, Odo. Il mistero del culto cristiano, 1985, p.119. In: Cadernos do Concílio, Jubileu 2025, n.13. Os tempos fortes do Ano Litúrgico, Edições CNBB, p. 54.
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*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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10 junho 2024, 09:10