Santa Missa na Solenidade dos Santos Pedro e Paulo Santa Missa na Solenidade dos Santos Pedro e Paulo  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Os santos venerados na perspectiva de Cristo, centro da fé

O CIC não deixa dúvida da intenção do Concílio de que a festa dos santos não deva ofuscar o Mistério central da Páscoa, colocando Cristo Ressuscitado como centro de tudo: “Quando a Igreja, no ciclo anual, faz memória dos mártires e dos outros santos, «proclama o mistério pascal» realizado naqueles homens e mulheres que «sofreram com Cristo e com Ele foram glorificados, propõe aos fiéis os seus exemplos, que a todos atraem ao Pai por Cristo, e implora, pelos seus méritos, os benefícios de Deus»”

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

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“Cristo é o arquétipo de toda a santidade, o santo por excelência, o “único Santo”. Os santos são, portanto, santos na medida em que se identificam com Cristo, na medida em que vivem em plena comunhão com o Cristo pascal.”

O Concílio Vaticano II reiterou a centralidade que a Páscoa tem nas celebrações do Ano Litúrgico (cf. SC, n. 102), propondo portanto a recuperação do culto dos santos na perspectiva da centralidade do mistério pascal de Cristo (cf. SC, nºs 104 e 111).

No artigo "Os Santos no Ano Litúrgico", padre Matias Augé, recorda que os santos são propostos a toda a comunidade cristã como aqueles que souberam viver plenamente o mistério pascal de Cristo e é neste sentido que se tornam modelos de vida cristã e válidos intercessores do povo de Deus. Quando a Igreja os venera, reconhece e proclama a graça vitoriosa do único Redentor e Mediador, Cristo. Agradece ao Pai pela misericórdia que nos foi dada em Cristo, que se tornou visível e eficaz em alguns dos seus membros e, com isso, em todo o corpo da Igreja. 

As liturgias orientais - recorda o sacerdote espanhol - destacam a contemplação do santo, como aquele em quem se reflete o ícone trinitário. As Igrejas ocidentais centram-se mais na atividade do santo, como aquele em quem se concretiza aquilo que Jesus começou a fazer e a ensinar. Em todo o caso, tanto o Oriente como o Ocidente não contemplam a vida e a morte do santo senão no mistério pascal de Cristo.

 

"Os santos venerados na perspectiva de Cristo, centro da fé" é o tema da reflexão do Pe. Gerson Schmidt*:

"O caderno do Concílio de número 12 em preparação ao Jubileu 2025, elaborado pelo carmelita e professor de pastoral litúrgica, italiano Giuseppe Midili, aponta o histórico desde o Concílio de Trento sobre as mudanças e intervenções sofridas no calendário litúrgico, acentuando a mudança no santoral – o calendário dos santos. Assim se expressa: “o calendário litúrgico que tinha sido promulgado depois do Concílio de Trento, sofreu, com o passar do tempo, numerosas intervenções de reforma. Entre tais intervenções, as mais significativas determinavam que as festas dos Santos não ofuscassem, ou, pior, tivessem a precedência sobre o domingo e sobre a celebrações do Mistério de Cristo. Muitas vezes foram promulgadas ao longo dos séculos algumas revisões, com a finalidade de sanar esta e outras lacunas, além de terem sido efetuadas algumas modificações, às vezes substanciais, na disposição das celebrações do calendário. Mesmo as últimas reorganizações, introduzidas no século XX, não alcançaram os resultados esperados. A última intervenção significativa se deve ao Pontífice Pio XII que prosseguiu a obra iniciada pelos seus predecessores, instituindo a chamada comissão “Piana” (do nome do pontífice) e projetando uma nova versão do calendário, significativamente mais simples precedente. Quando João XXIII, em 25 de janeiro de 1959, anunciou a convocação de um Concílio, o movimento litúrgico já tinha iniciado um longo e articulado percurso de renovação da vida litúrgica. O santoral, todavia, não obstante a tantas intervenções, era ainda percebido como pesado por conta das celebrações do Mistério de Cristo e da centralidade do domingo”.

O Catecismo da Igreja Católica não deixa dúvida da intenção do Concílio de que a festa dos santos não deva ofuscar o Mistério central da Páscoa, colocando Cristo Ressuscitado como centro de tudo: “Quando a Igreja, no ciclo anual, faz memória dos mártires e dos outros santos, «proclama o mistério pascal» realizado naqueles homens e mulheres que «sofreram com Cristo e com Ele foram glorificados, propõe aos fiéis os seus exemplos, que a todos atraem ao Pai por Cristo, e implora, pelos seus méritos, os benefícios de Deus»”[1].

Para a reforma litúrgica e comemoração dos santos, São Papa Paulo VI, em 28 de abril de 1969, anunciava a publicação do Novo Calendário Litúrgico, juntamente com a publicação do Ordo Missae e com a instituição da nova Congregação para o Culto Divino. Quanto ao novo Calendário Romano, disse assim Paulo VI: “O Ano Litúrgico não foi radicalmente mudado, mas na revisão foi seguida esta norma: que os elementos dos quais derivam as partes individuais dos tempos litúrgicos realcem melhor o Mistério Pascal de Cristo como o centro de todo o culto litúrgico. O calendário, ademais, no que foi possível, confirmou a celebração do ‘dia do nascimento’ de cada santo com este critério: foi tornada obrigatória para toda a Igreja a festa daqueles Santos que tem maior importância pela história e pelo exemplo; os menos conhecidos, ao contrário, foram deixados ao culto da Igreja local, depois de haver reconduzido à fidelidade histórica as informações que se relacionam com a vida e a festa dele”[2].

Reafirmamos que cada um dos mistérios da vida de Cristo não é independente um do outro, mas estão todos unidos pelo Mistério Pascal que os vincula, os atrai, congrega, lhes dá vigor. Por exemplo, o nascimento do Senhor recebe do Mistério Pascal o seu significado salvífico; a Encarnação do Filho de Deus refere-se à Paixão e à Redenção. Cristo nasceu entre nós para uma missão concreta, ou seja, a redenção da humanidade.

Da mesma forma que cada acontecimento de Cristo tem como pano de fundo a ação salvífica, o canto da vitória de Cristo ressuscitado, assim também se entenda o culto de Maria e dos Santos. “A comunidade cristã peregrina na terra e a caminho da Jerusalém Celeste, é sustentada pela intercessão dos Santos, cuja vida resplandece no tempo como continuação ou memória contínua da vida de Cristo”[3]. Os santos apontam para Cristo. Não se entenda nenhum deles sem sua relação íntima, íntegra e total a Cristo. Maria conduz para Cristo, seu amado e único Filho. Os outros santos também. Esses “ homens e mulheres que «sofreram com Cristo e com Ele foram glorificados, propõe aos fiéis os seus exemplos, que a todos atraem ao Pai por Cristo, e implora, pelos seus méritos, os benefícios de Deus»”[4]."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] Catecismo, n.1173. Concílio do Vaticano, Const. Sacrosanctum Concilium, 104: AAS 56 (1964) 126; cf. Ibid., 108: AAS 56 (1964) 126 e Ibid., 111: AAS 56 (1964)127.
[2] BUGNINI, Annibale. A Reforma Litúrgica (1948-1975). Paulus, Paulinas, Loyola, 2018, p. 277.
[3] Cadernos do Concílio, Jubileu 2025, n.13. Os tempos fortes do Ano Litúrgico, Edições CNBB, p. 52-53.
[4] Catecismo, n.1173. Concílio do Vaticano, Sacrosanctum Concilium, 104: AAS 56 (1964) 126; cf. Ibid., 108: AAS 56 (1964) 126 e Ibid., 111: AAS 56 (1964)127.

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15 julho 2024, 10:29