Cardeal Zenari: na Síria, a bomba da pobreza está matando a esperança
Massimiliano Menichetti
A martirizada Síria, como o Papa Francisco reitera com frequência, agora está esquecida, saiu do radar da informação. Testemunha da luz de Cristo e da esperança que está se esvaindo naquele país é o núncio apostólico em Damasco, o cardeal Mario Zenari, que neste domingo (22/09) presidiu a missa dominical na paróquia romana de Santa Maria delle Grazie alle Fornaci, da qual é diácono.
Na homilia e no encontro com os paroquianos após a celebração, ele compartilhou o sofrimento do povo sírio, que já entrou em seu décimo quarto ano de conflito e “está exausto e lutando para ver a luz do futuro”. A guerra já matou 500 mil pessoas, mais de 7 milhões estão deslocadas internamente e mais de 5 milhões fugiram para outros países. De acordo com as Nações Unidas, 16,7 milhões de pessoas estão precisando de ajuda humanitária e quase 13 milhões estão passando por grave insegurança alimentar.
Zenari falou sobre as muitas cruzes, “grandes e pequenas”, que todos carregam em suas vidas e o apoio que Cristo dá, e depois mostrou aquelas na Síria. Ele voltou com sua memória a anos passados, à imagem impressa em sua mente de mais de um milhão de sírios que saíram para fugir da violência, sob chuva e neve, levando consigo o que podiam: “uma Via-Sacra de um quilômetro de extensão”. Depois, outro momento na memória, o de uma Sexta-feira Santa, quando as bombas estavam caindo na cidade de Homs e um sacristão perguntou ao padre Michael onde a liturgia deveria ser preparada, em um contexto em que tudo estava destruído e as igrejas danificadas. “Padre Michael instruiu o sacristão a pegar uma longa corda e colocá-la ao redor dos bairros devastados pela guerra e colocar as palavras Calvário no centro do perímetro. Hoje”, reiterou o cardeal, ‘essa corda é muito mais longa e se estende por quilômetros e quilômetros e abrange todo o Oriente Médio’.
“Vi tanta destruição, morte, crianças amputadas, tanto sofrimento durante os anos de intensos combates. Agora a bomba da pobreza explodiu, não deixando nenhuma esperança para a população”. Ele confirma que as sanções impostas contra o regime sírio estão tendo repercussões muito pesadas sobre a população: “durante a guerra havia luz, agora há apagões e a escuridão envolve o país". Falta de tudo: remédios, alimentos, objetos de uso diário, os bancos não estão investindo, as finanças estão paralisadas, assim como a educação.
A população continua fugindo, a pobreza é galopante: “hoje, um médico”, ressalta Zenari, “ganha 20 euros por mês. As pessoas estudam quando podem e pensam em emigrar”. Nesse cenário, a Igreja está na linha de frente, ajudando, confortando, iniciando todas as ações, até mesmo as diplomáticas, para reverter essa queda em direção ao abismo. De acordo com as Nações Unidas, cerca de 500 pessoas deixam o país todos os dias.
O grito do núncio em Damasco não pode permanecer surdo em um planeta dilacerado pelo conflito. A construção de um mundo fraterno, solidário, em paz, capaz de iniciar projetos políticos de grande alcance com o homem no centro é possível, não é apenas imaginável, e é implementada com o compromisso de muitos. Não podemos nos esquecer da Síria, não podemos olhar para o outro lado quando migrantes morrem no mar, não podemos aceitar ditaduras e conflitos. Todos, em todas as esferas, são chamados a construir caminhos de diálogo, encontro e paz.
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui