Dilexit nos: a experiência de um coração que ama
Alessandro Gisotti
“Boa parte das reflexões deste primeiro capítulo foram inspiradas pelos escritos inéditos do Padre Diego Fares, S.I. Que o Senhor o tenha em sua santa glória." Aprendemos com o passar do tempo a reconhecer nos documentos magisteriais do Papa Francisco o quão importante são por vezes as notas de rodapé. É certamente o caso da Encíclica Dilexit nos, hoje publicada, onde na nota 1 o Papa confidencia que a inspiração das páginas introdutórias - aquelas que orientam todo o documento - veio do seu amigo e estudante jesuíta Diego Fares, falecido aos 66 anos em 2022. Quem escreve teve a sorte de conhecer padre Diego nos anos em que foi redator de La Civiltà Cattolica e de entrevistá-lo diversas vezes sobre espiritualidade, as raízes e a visão de Jorge Mario Bergoglio. Retomando hoje aquelas reflexões, emergem com clareza as contínuas referências que Fares faz à palavra “coração” quando fala do seu diretor espiritual, que se tornou arcebispo de Buenos Aires e por fim Bispo de Roma. Referências que ajudam a compreender que a quarta Encíclica de Francisco não nasce de um estudo teórico, mas de uma experiência vivida.
“Se o Papa Francisco conseguir reformar a Cúria e a Igreja – sublinha, centrando-se no valor dos Exercícios Espirituais na experiência vivida no Colegio Maximo dos Jesuítas em Buenos Aires – fará uma reforma, penso eu, que começa a partir de dentro, do coração, não será uma reforma de mudanças puramente exteriores.” O coração, alma dos Exercícios Inacianos, por sua vez no centro de uma verdadeira reforma interior que não é apenas pó colocado no rosto. Além disso, também a experiência do Sínodo sobre a Sinodalidade, que chega às suas etapas finais, teve como premissa um retiro, portanto um exercício antes de tudo do coração na escuta do Espírito Santo.
Para Fares, o coração também está no centro do pensamento do Papa sobre a educação, conceito bem mais amplo e profundo de instrução. “É verdade – constata – que ele é um grande educador, um formador, dizemos. Alguém que vive a educação como um todo, como educação do coração”. E acrescenta que “educar o coração” – para Bergoglio – “somente um pai, uma mãe pode fazer. O coração sempre tem a última palavra." E observava como “por trás dos critérios pedagógicos da Amoris laetitia há um ‘sim’ e um ‘não’ radicais. O “sim” é o sim forte à alegria do amor. A alegria expande o coração da família."
Particularmente sugestivo é o que indica o jesuíta argentino sobre as características que para o Papa são fundamentais em um bispo. Para Francisco, o modelo exemplar de pastor é São José que “vigia” pelo Menino e pela Mãe. “Zelar – afirma Fares – refere-se mais ao cuidado da doutrina e dos costumes, enquanto vigiar alude antes a garantir que haja sal e luz nos corações”. E acrescenta que “zelar e vigiar falam-nos de um certo controle necessário. Pelo contrário, vigiar fala-nos de esperança, a esperança do Pai misericordioso que zela pelo processo do coração dos seus filhos”.
Misericórdia e Esperança, temas principais dos dois Jubileus do Pontificado de Francisco: aquele extraordinário de 2016 e aquele já iminente de 2025. Misericórdia e Esperança que - como nos recorda agora Dilexit nos - não são dimensões distintas no Coração de Jesus, mas expressão indivisa de um amor infinito que abraça a humanidade.
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