Texto integral do Relator Geral do Sínodo- 1ª Congregação Geral
Cardeal Jean Claude Hollerich - Relator Geral do Sínodo
Boa tarde. Parece-me justo começar com um cordial “Bem-vindos” aos que – não são muitos – chegaram à Segunda sessão sem ter participado da Primeira. Espero que tenham se sentido acolhidos. Mas prossigo imediatamente com um “Bem-vindos de volta” igualmente cordial, dirigido a todos aqueles que estão aqui pela segunda vez. Foi belo nos revermos, é um sinal de que realmente cresceram entre nós a familiaridade e a amizade, que o ano que passou não as apagou.
Eis-nos aqui: os rostos dos que estão ao nosso redor são conhecidos, a sala é a mesma, e também as mesas. Em relação a mim, até o lugar é o mesmo do ano passado. Mesmo que algumas mesas foram mudadas de lugar, creio não ser o único nesta situação. Isto nos ajuda a nos sentirmos em casa, mas talvez não para nos darmos conta de uma coisa muito importante. A Segunda Sessão não é uma repetição e nem mesmo um simples prosseguimento da Primeira, em relação à qual somos chamados a dar um passo adiante. É isto que o Povo de Deus espera desta Assembleia sinodal.
Assim, pensei que, neste momento, possa ser-nos útil refletir sobre o que é diverso entre a Primeira e a Segunda Sessões, de maneira para melhor nos sintonizarmos com nossa nova tarefa.
O objetivo da Segunda Sessão
A primeira diferença, a principal, é a do objetivo das duas Sessões, que define também a índole do nosso estar juntos e das nossas partilhas. O objetivo da Primeira Sessão era nos permitir que nos conhecêssemos reciprocamente, mas sobretudo consentir a cada um adquirir um conhecimento melhor das Igrejas das quais provêm os demais, da sua situação, do modo em que vivem a missão, das prioridades da sua ação, das suas preocupações e das suas questões a respeito da sinodalidade. Cm uma imagem, poderíamos dizer que, na Primeira Sessão, erámos chamados a olhar uns através dos olhos dos outros. Tratou-se de um percurso fascinante, às vezes fatigante, que fez emergir as tantas diferenças das quais a Igreja é portadora – de língua, cultura, tradições, gêneros, condições – e nos levou a reconhece-las como uma riqueza e um dom de Deus. Como afirma o Instrumentum laboris para a Segunda Sessão, «A experiência do pluralismo das culturas e da fecundidade do encontro e do diálogo entre elas, é condição de vida da Igreja e não uma ameaça à sua catolicidade» (IL2, n. 81).
A partir dessa experiência e cheios de estupor e gratidão pela riqueza que o Espírito doa à Igreja, nesta segunda Sessão, somos então chamados a focalizar o nosso olhar, ou melhor, a discernir juntos para onde voltá-lo, indicando possíveis trajetórias de crescimento, ao longo das quais convidar as Igrejas a caminhar. O objetivo é que aquelas riquezas não permaneçam encerradas em um baú, mas entrem no circuito da troca de dons que nutre a comunhão da Igreja em seu conjunto. A isto, convida-nos a pergunta guia para esta Segunda Sessão: «Como ser Igreja sinodal missionária?», sobre a qual foram consultadas todas as Igrejas do mundo.
O Instrumentum laboris para a Segunda Sessão, sobre o qual se baseia o nosso trabalho nas próximas semanas, oferece-nos um “destilado” daquilo que, como Igreja, aprendemos ao longo do caminho destes três anos. Significativamente, o seu título repropõe a pergunta guia da Segunda Sessão – «Como ser Igreja sinodal missionária» –, mas deixando cair o ponto de interrogação. Isto indica exatamente o passo que, juntos, devemos cumprir como Assembleia.
O Instrumentum laboris para a Segunda Sessão
Chegamos assim à segunda importante diferença. Quando receberam o Instrumentum laboris para a Segunda Sessão, devem ter se dado conta ao primeiro olhar do quanto seja diverso daquele preparado para a Primeira. O instrumento de trabalho é diverso, porque diversa é a nossa tarefa.
O Instrumentum laboris para a Primeira Sessão era uma coletânea de perguntas, particularmente, nas Fichas de trabalho. Convidava-nos a nos perguntar e, sobretudo, a dizer: as respostas àquelas perguntas eram sobretudo a narrativa da experiência das nossas Igrejas. Bem diverso é o Instrumentum laboris para a Segunda Sessão, na qual o ponto de interrogação aparece uma dezena de vezes, contra as mais de 300 do anterior – dei-me ao trabalho de contá-los. parece-me um bom indicador do passo adiante a que a Segunda Sessão é chamada a dar e um claro convite a focalizar toda a nossa atenção em uma única direção.
A serviço do nosso esforço, o texto do Instrumentum laboris para a Segunda Sessão condensa aquelas que podemos considerar as principais contribuições amadurecidas ao longo do processo sinodal em relação aos temas abordados. Os peritos que colaboraram à sua redação, aos quais desejo aqui agradecer pelo seu esmero – muitos estão aqui presentes na Sala, mas nem todos –, partiram do Relatório de Síntese da Primeira Sessão e dos êxitos da segunda consulta às Igrejas locais, mas levaram em conta também os documentos precedentes. Além disso, consideraram os frutos do Encontro internacional “Párocos em prol do Sínodo”, a respeito do qual já escutamos um testemunho, e os materiais produzidos por cinco Grupos de trabalho constituídos pelo Secretaria Geral do Sínodo.
Para bem usar o o Instrumentum laboris, é necessário evidenciar qual seja a sua natureza: não se trata de um rascunho do Documento final que simplesmente requer alterações, mas da coletânea dos resultados de um processo que é nossa tarefa discernir. Cabe a esta Assembleia indicar onde pôr o acento ou uma ênfase, porque se trata de algo particularmente importante; cabe a nós também discutir o que precisa ser aprofundado e reformulado. Sobretudo, cabe a nós indicar a direção em que sentimos que o Espírito pede a toda a Igreja para seguir, confiando ao Santo Padre orientações e perspectivas para a fase de atuação.
O método de trabalho
Às diferenças nos instrumenta laboris das duas sessões, correspondem àquelas do método de trabalho que seguiremos. Certo, teremos sempre tempos de trabalho de grupo (os circuli minores) e tempos de trabalho em plenário (as Congregações Gerais), mas, em relação ao ano passado, muda a dinâmica de ambos. Perceberão isto lendo as informações sobre a metodologia (o documento intitulado “Como trabalharemos juntos”) que recebemos nas semanas passadas ou o regulamento.
Os grupos de trabalho continuarão a seguir o método do diálogo no Espírito, mas com algumas adaptações ao objetivo específico desta Sessão. Sobre estas novidades, receberemos indicações mais precisas amanhã pela manhã, enquanto nossos facilitadores passaram por três dias de formação, para melhor nos acompanhar. Agradecemos a eles por isso.
Também sobre o trabalho em plenário, receberemos maiores informações. Aqui, sublinho apenas a escolha de dar um maior enfoque às nossas partilhas. Por isso, em cada um dos quatro módulos que a partir de amanhã nos serão familiares, a primeira tarefa da Assembleia será aprovar a ordem em que os temas serão abordados durante as numerosas horas (para três módulos serão nove) de sessões plenárias disponíveis, a partir de um elenco que surgirá dos trabalhos de grupo. Pedimos aos presidentes delegados a desempenhar um papel proativo, para nos ajudarem a não nos desviarmos das prioridades que nós mesmos aprovaremos e, por isso, também eles seguiram uma formação específica. Mas a sua tarefa será mais fácil se todos os ajudarem, exercitando um pouco de autodisciplina. Contudo, em cada módulo, será previsto um momento para intervenções sobre temas que a Assembleia não tiver indicado como prioritários.
Em diálogo com os Grupos de Estudo
Há uma última diferença que sinto ter que sublinhar. No ano passado, a nossa Assembleia era único órgão que, em nível de Igreja universal, levava adiante a reflexão sobre a sinodalidade praticando o método sinodal. Este ano não é mais assim. Temos companheiros de estrada, que são os dez Grupos de Estudo instituídos por decisão do Santo Padre no mês de fevereiro.
Estes dez Grupos são, antes de tudo, o primeiro fruto concreto do nosso trabalho. Segundo o que afirma o Santo Padre, de fato, «O Relatório Síntese da Primeira Sessão [...] enumera múltiplas e importantes questões teológicas, todas, em várias medidas, ligadas à renovação sinodal da Igreja e não isentas de repercussões jurídicas e pastorais. Tais questões, pela sua natureza, exigem ser abordadas com um estudo aprofundado. Não sendo possível realizar este estudo durante a Segunda Sessão (2-27 de outubro de 2024), disponho que sejam atribuídas a específicos Grupos de Estudo, para que se proceda um adequado exame delas»[1]. Em outras palavras, com a instituição destes Grupos, já se iniciou a recepção e a atuação das indicações da nossa Assembleia.
Isto vale também – e sinto particularmente que devo sublinhá-lo – para o método de trabalho destes Grupos. No momento em que os institui, o Santo Padre estabelece também que «trabalhem segundo um método autenticamente sinodal» (ibid.), confiando ao Secretário Geral do Sínodo a tarefa de garantir que seja efetivamente assim. Explica-se assim, por exemplo, a composição destes grupos, que vê a presença dos Dicastérios da Cúria Romana competentes sobre os diversos temas juntamente com a de pastores e peritos de diversas proveniências geográficas, diversas condições (homens e mulheres, sacerdotes, consagradas e consagrados, leigos e leigas) e de diversas competências profissionais. A Secretaria Geral do Sínodo participou ativamente do início destes Grupos, e continua a seguir o seu trabalho, assegurando-lhes a coordenação com o processo sinodal. Trata-se de verdadeiros e próprios laboratórios de sinodalidade, dos quais se aprenderá também avaliando-os.
Neste sentido, estes dez Grupos são também nossos interlocutores e dedicaremos o tempo que nos resta esta tarde ao diálogo com eles, convidando um representante de cada um dos dez Grupos para nos atualizar sobre o programa que definiram. Faremos isto dentro de um rápido exame dos conteúdos das quatro Seções do nosso Instrumentum laboris, que obviamente correspondem aos temas dos primeiros quatro módulos desta Assembleia. Descobriremos assim o quão o nosso trabalho e o dos dez Grupos estão estreitamente interligados. Em estilo sinodal, não serei, portanto, o único a falar durante o Relatório do Relator Geral. Este diálogo poderá continuar nas próximas semanas, visto que, como podem ver, muitos membros dos dez Grupos estão participando dos trabalhos da Segunda Sessão, em diferentes qualidades.
Um olhar sobre temas do nosso trabalho
O Instrumentum laboris para a Segunda Sessão se abre com a visão do banquete messiânico do profeta Isaías (25,6-8). Recorda-nos assim que, aos seus discípulos, o Senhor ressuscitado confia «a missão de reunir todos os povos, para lhes servir um banquete feito de um alimento que é penhor de vida e alegria plenas» (IL2, Introdução). A missão é o horizonte da Igreja sinodal. O texto se subdivide em quatro Seções. Nos primeiros quatro módulos dos nossos trabalhos, iremos nos deter sobre cada um deles, como será melhor explicado amanhã. Para esta tarde, limito-me em evidenciar as conexões com os dez Grupos de Estudo.
A primeira Seção é intitulada «Fundamentos»: delineia o horizonte em cujo interior colocar a elaboração das resposte à pergunta guia, explicitando os pontos de referência teológicos foram sendo consolidados gradativamente nestes anos. É neste contexto que o Instrumentum laboris se remete ao trabalho do Grupo de estudo n. 10, “A recepção dos frutos do caminho ecumênico no Povo de Deus (RdS 7)”. Fala-nos S. Ex.a Rev.ma Dom Paul ROUHANA, O.L.M., Bispos Auxiliar de Joubbé, Sarba e Jounieh dos Maronitas, coordenador. Recordo a todos aqueles que intervirão que têm à disposição três, máximo de quatro minutos, após o breve vídeo de introdução.
A todos, a nossa gratidão pelo trabalho feito.
Obrigado. É sempre nos «Fundamentos» que o Instrumentum laboris menciona o Grupo de estudo n. 2, “A escuta do grito dos pobres (RdS 4 e 16)”. Fala-nos da Dr.a Sandie CORNISH, australiana, que é a sua coordenadora.
Obrigado, Doutora Cornish. No Instrumentum laboris, aos Fundamentos «seguem-se três Partes estreitamente ligadas, que ilustram com perspectivas diferentes a vida sinodal missionária da Igreja» (IL2, Introdução). A primeira perspectiva é aquela das «Relações – com o Senhor, entre irmãos e irmãs e entre as Igrejas – que sustentam a vitalidade da Igreja muito mais radicalmente que as suas estruturas» (ibid.). Entre os temas desta Seção, está a troca de dons entre as Igrejas. O Grupo de estudo n. 1 reflete, particularmente, sobre “Alguns aspectos das relações entre as Igrejas Orientais Católicas e a Igreja latina (RdS 6)”. Escutemos a apresentação do seu trabalho por parte de S. Em.a Rev.ma Card. GUGEROTTI, Prefeito do Dicastério para as Igrejas Orientais.
Obrigado, Eminência. Um outro ponto de grande relevância da seção «Relações» é aquele que diz respeito aos ministérios na Igreja e sobre as relações entre carismas e ministérios. Neste âmbito, situa-se o trabalho do Grupo de estudo n. 5. Apresenta-nos S. Em.a Rev.ma Card. Víctor Manuel FERNÁNDEZ, Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé.
Obrigado, Eminência, pela sua intervenção. Grande espaço dentro da seção «Relações» é dedicado ao serviço dos ministros ordenados (bispos, presbíteros e diáconos) e à construção de relações, entre eles e com os demais membros do Povo de Deus. O tema se conecta ao trabalho do Grupo de estudo n. 7, que nos será apresentado com um vídeo pelo seu coordenador, Dom Felix GENN, Bispo de Münster (Alemanha).
Agradecemos a Dom Glenn. Dentro deste contexto, o Grupo de estudo n. 6 se ocupa de um aspecto particular. Atualiza-nos a respeito o coordenador do Grupo, S. Em.a Rev.ma Card. Joseph William TOBIN, C.Ss.R., Arcebispo de Newark (E.U.A.).
Obrigado de coração, Eminência. Passemos à segunda perspectiva, aquela dos « Percursos que suportam e alimentam de modo concreto o dinamismo das relações» (IL2, Introdução). Na Seção, a atenção é imediatamente posta sobre o tema da formação à sinodalidade, sobre a qual está trabalhando também o Grupo de estudo n. 4. Atualiza-se a respeito com um vídeo o coordenador do Grupo, S. Em.a Rev.ma Card. José COBO CANO, Arcebispo de Madri (Espanha).
Obrigado desde longe, Eminência. Um segundo tema crucial desta Seção é aquele dos processos de discernimento eclesial e sobre as modalidades de seu desenvolvimento. Conecta-se aqui o trabalho do Grupo de estudo n. 9, “Critérios teológicos e metodologias sinodais para um discernimento compartilhado de questões doutrinais, pastorais e éticas controversas (RdS 15)”. Fala-nos o Secretário do Grupo, Rev. Pe. Carlo CASALONE, S.I.
Em seguida, entra-se na terceira perspectiva, aquela «dos Lugares que, contra a tentação de um universalismo abstrato, falam do concreto dos contextos em que se encarnam as relações, com a sua variedade, pluralidade e interconexão, e com o seu enraizamento no fundamento nascido da profissão de fé» (IL2, Introdução). Entre as culturas nas quais encarnar a mensagem evangélica, há hoje também aquela do ambiente digital, a que é dedicado o trabalho do Grupo de estudo n. 3, do qual nos fala a sua coordenadora, Prof.a Kim DANIELS, dos Estados Unidos.
Obrigado, Professora Daniels. Estamos em uma concepção de lugar que não pode mais ser definido apenas com critérios geográficos ou espaciais, mas deve ser entendido como um tecido de relações.
Nesta seção, também entramos em temas de grande relevância, como as relações entre as Igrejas locais dentro da comunhão universal, o papel das agregações de Igrejas, a função da instituição do Sínodo, o serviço da unidade que compete ao Bispo de Roma. Coloca-se neste contexto a reflexão do Grupo de estudo n. 8, sobre os Núncios Apostólicos. Fala-nos, em vídeo, o coordenador, S. Em.a Rev.ma Card. Oswald GRACIAS, Arcebispo de Bombaim (Índia).
Mesmo que nos fale em vídeo, podemos agradecer ao Cardeal Gracias pessoalmente, visto que faz parte do Conselho Ordinário do Sínodo e, portanto, da nossa Assembleia.
Após a seção sobre os Lugares, o Instrumentum laboris conclui com uma breve conclusão, que nos remete ao horizonte de sentido do nosso caminho de Igreja sinodal, mas também de Assembleia sinodal. Parece-me que o parágrafo conclusivo do Instrumentum laboris, o n. 112, possa nos ajudar hoje a desenvolver a nossa tarefa com as justas disposições.
«O profeta Isaías termina o seu oráculo com um hino de louvor a retomar em coro: “Eis que este é o nosso Deus, em quem esperávamos, e ele nos salvará; este é o Senhor, a quem aguardávamos; na sua salvação exultaremos” (Is 25,9). Como Povo de Deus unamo-nos a este louvor, enquanto como peregrinos de esperança continuamos a avançar ao longo do caminho sinodal rumo àqueles que ainda aguardam o anúncio da Boa Nova da salvação!».
[1] Carta do Santo Padre ao Card. Grech, 22 de fevereiro de 2024, disponível no site do Sínodo: 240081---ITA---Lettera-Santo-Padre-a-Card.-Grech.pdf (synod.va).
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