Peregrinos de Esperança
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
Estamos na III Semana do Advento, a semana da alegria, quer pela aproximação do Natal como pela abertura do Jubileu 2025 na noite do dia 24 de dezembro, cuja Bula de Proclamação tem por título «Spes non confundit – a esperança não engana».
Na homilia da Missa celebrada no Domingo Gaudete em Ajaccio, capital da Córsega, o Papa Francisco destacou que "a fé em Deus dá esperança". E precisamente "Peregrinos de esperança" é o tema da reflexão do Pe. Gerson Schmidt* para esta semana:
"O Concílio Vaticano II na Constituição Pastoral Gaudium et Spes aponta a missão da Igreja no mundo, mergulhado em contínuas tensões, guerras, conflitos, ideologias e falta de esperança. Essa constituição começa colocando que as alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje sobretudo dos pobres e daqueles que sofrem, são também as alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. Os seja, as preocupações que sofrem os homens fazem parte da pauta também das preocupações da Igreja. Não podemos ficar alheios aos problemas do mundo. No final do número 31 da Gaudium et Spes, diz assim: “Podemos legitimamente pensar que o destino futuro da humanidade está nas mãos daqueles que souberem dar às gerações vindouras razões de viver e de esperar”.
Diz assim o Pe. Humberto Robson de Carvalho, no livro “Presbíteros: testemunhas da Esperança”, comentando esse trecho da Gaudium et Spes: “Sim, a esperança, como dom e virtude, atenta aos dramas da humanidade e seus clamores, acolhe no amor a vida presente e lança um olhar para o amanhã, àquele que pode salvar, ao Senhor Jesus, uma porta sempre aberta para o futuro, para a eternidade. Sabemos que o Senhor é o fundamento da esperança (cf. Rm 15,13). A esperança cristã não brota das possibilidades humanas, mas da Ressurreição de Jesus (cf. 1Ts 1,9-10), de onde vem a prontidão e a sobriedade para percorrer um longo caminho (cf.Lc 12,35. Em Cristo somos revestidos da couraça da fé e do amor, com o capacete da esperança da salvação (cf. 1Ts 5,4-8). Em uma perspectiva comunitária, a esperança é como uma âncora segura e sólida que impulsiona a caminhada da comunidade cristã”[1]. O autor nesse livro apresentou um subsídio para o 19º Encontro Nacional dos Presbíteros no Brasil, em vista do Jubileu 2025, e fundamenta sua proposta no texto Paulino da Carta aos Romanos: “Alegres na esperança, perseverantes na tribulação, constantes na oração” (Rm 12,12).
O subsídio que tem como título “As parábolas da Oração”, é um dos cadernos sobre a Oração que prepara o Jubileu, de autoria de Antonio Pitta, que também fala da esperança. O biblista aponta, nesse caderno, um título sobre “uma oração vigilante” e diz que “entre o sono e a vigilância, o discípulo aprende a última fase da oração ensinada por Jesus. A vigilância na oração é necessária porque revela a paz a face da Esperança. Vigia-se porque se espera, de outro modo, não se compreende porque seria necessário vigiar de noite. E sobre a esperança são necessárias algumas observações, pois de outra forma se entende mal sua natureza”. Quais essas observações do autor?
Aponta, sobretudo, que a Sagrada Escritura é o principal código de esperança para o povo judeu e a comunidade cristã. Não por acaso que Abraão, Pai da fé, é ao mesmo tempo, modelo de esperança contra toda a esperança. Os profetas esperaram a realização das promessas de Deus, o povo de Deus pelo Messias. Mas a Escritura “anuncia uma esperança diferente, fundamentada sobre um evento e não sobre um desejo humano: o êxodo do Egito é o paradigma da esperança hebraica e o Senhor ressuscitado é a razão última da esperança cristã. Entre aqueles que não tem esperança e os fiéis, destaca-se uma esperança que, radicada na fé e no amor, transforma-se em convicção para além d vida terrena. Se uma das primeiras confissões da fé cristã é Marana-tha (O vem Senhor Jesus) é porque o Verbo se fez carne e os fiéis contemplam a sua glória até o fim da vida”.
Agora é tempo de ser Igreja, tempo em que de novo os amigos do esposo velam, jejuam e rezam, no fim que o esposo que passou entre os homens e foi elevado (At 1,11) reapareça de novo. “Com essa partida, principia, na terra a oração da Igreja que é a da perspectiva, na qual Jesus, quando vivia entre nós, queria que seus discípulos permanecessem atentos e vigilantes (esperançosos). Não é mais a mera procura do homem, prisioneiro da caverna (platônica - mito da caverna), que, às apalpadelas, procura a luz cujos reflexos vislumbrou. A luz brilhou nas suas trevas”[2]. Essa luz é Cristo que irrompeu na história e a fé nos faz acreditar que, por meio dEle, uma nova esperança do Reino brilhou na escuridão das trevas da escravidão humana."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] CARVALHO, Humberto Robson de. “Presbíteros: testemunhas da Esperança”, Edições CNBB,2023, subsídio para o 19º Encontro Nacional dos Presbíteros – Jubileu 2025, p. 10-11, apresentação.
[2] LAPLACE, Jean. A oração – aneseio e encontro, Paulinas, 1977, p.91 – grifo nosso.
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