Marcha pela paz de italianos a Kiev supera as expectativas
Antonella Palermo - Vatican News
A ação não violenta não significa passividade, mas ação, através de caminhos de fraternidade e reconciliação na convicção de que "as armas nunca levam a uma solução". Isso foi reafirmado nesta segunda-feira (11) em Kiev por uma centena de representantes de cerca de 35 associações unidas no Mean, o Movimento Europeu de Ação Não Violenta (realidades eclesiais, sociedade civil, políticos...) que marcharam pela paz junto com cerca de 50 representantes institucionais e da sociedade civil na Ucrânia.
Para isso, escolheram o dia em que é celebrado o santo padroeiro da Europa, São Bento, e quando se recorda o massacre de Srebrenica. Foi a primeira manifestação italiana de cidadania ativa na capital ucraniana ainda sob o cerco russo.
A chegada à cidade no final da noite de domingo (10) foi marcada pelo som de sirenes antimísseis. Parte da noite foi passada no bunker sob o hotel que os hospedava. Na manhã desta terça-feira (12), o retorno para a Itália.
O acolhimento do núncio apostólico
O núncio apostólico, dom Visvaldas Kulbokas, estava entre aqueles que acolheram o grupo com grande gratidão, expressando encorajamento em um caminho que ele disse compartilhar plenamente. Também foi uma oportunidade para o embaixador do Papa na Ucrânia resumir as três atitudes mais comuns em relação à guerra: aqueles que começaram a guerra, a promovem e a apoiam, e não querem ouvir nenhum sofrimento ou gritos; aqueles que sabem que há uma guerra na Ucrânia, outra na Síria e outros lugares, mas param em um conhecimento apenas "teórico" e não se deixam questionar muito; aqueles que querem construir a paz e tentam fazê-lo na prática. "Todos nós que estamos aqui hoje queremos pertencer a essa última categoria", foram as suas palavras.
Ouvir as necessidades para agir concretamente
Na tarde de um dia emocionalmente e logisticamente exigente, encontramos Riccardo Bonacina, diretor de "Vita", um dos promotores da iniciativa. Ele insiste em falar de "pequeno gesto", mas de suas palavras emerge toda a esperança de que esta é uma semente destinada a se espalhar em breve, assumindo robustez e eficácia.
Como foi tudo, diretor?
Os resultados estão além das expectativas porque tivemos uma recepção magnífica - após uma viagem bastante conturbada e longa, 28 horas de ônibus - e houve uma conexão com 15 praças italianas. Houve este abraço entre Kiev e as praças italianas que mobilizou milhares de pessoas, o que foi um de nossos objetivos, para unir a sociedade civil. Também teve uma reunião com a parte institucional, com o prefeito e vice-prefeito de Kiev e com o núncio apostólico. Ele foi muito bom: disse que a não violência é o seu método. Ele acredita muito em ações não violentas e, para enfatizar, usa o próprio termo "ação", porque não basta dizer "eu sou pela paz", ações são necessárias. Na verdade, não se trata apenas de enunciar, de dizer um princípio, trata-se de promover caminhos de pacificação. É importante, disse-nos ele, que seja um método utilizado com grande tenacidade e criatividade, porque as falhas do método não violento já são muitas, mesmo em nível institucional.
A palavra "criatividade" impressiona, que é a mesma usada tantas vezes pelo Papa Francisco em vários âmbitos. Em resumo, 'não violento' não é sinônimo de 'passividade'....
É uma ação real, a de colocar-se em movimento, capaz de abraçar, capaz de ajudar, capaz de escutar, porque a escuta é a base de qualquer ação não violenta. Temos uma certa admiração pelos ucranianos pela coragem e tenacidade com que enfrentam uma situação realmente difícil. Em Kiev, onde as pessoas voltaram, uma cidade que está repovoando, há muita tensão. Por isso, eles precisam de abraços. Para voltar a falar do Papa - que disse no Angelus que devemos unir as sociedades civis, que não há paz se não houver encontro entre os povos - bem, essa é uma grande tarefa. Fizemos um pequeno gesto, viemos em uma centena ou mais para encontrar 50 deles - também porque por razões de segurança não poderíamos fazer diferente - mas este é o caminho certo. Agora estão surgindo colaborações. Estamos divididos em grupos para descobrir como ajudá-los na segurança dos bens de museus, como ajudá-los na recuperação de crianças traumatizadas, como ajudá-los com todos aqueles que sofreram feridas graves durante a guerra, estamos descobrindo como continuar esta colaboração também com percursos concretos.
Como o senhor responde àqueles que afirmam que parar de enviar armas para a Ucrânia significaria de fato abandonar este país para se submeter ao agressor?
Fizemos um decálogo, após várias reuniões preparatórias, nas quais dissemos que não queremos nos resignar à lógica binária da guerra: amigo/inimigo, armas/nenhuma arma. Não estamos aqui para julgar - sabemos que as armas chegaram a ser importantes, porque se ao invés de um míssil cair sobre um centro comercial, treze deles tivessem caído, sem ter o sistema antimíssil dado pelos alemães, tudo teria sido muito mais complicado - mas também sabemos que as armas nunca levam a uma solução, que um mundo armado nunca leva a nada de bom. E é por isso que estamos aqui, para propor um caminho diferente, sem julgá-los, mas propondo algo diferente.
Esta ação de baixo pode incidir sobre a atividade diplomática?
É claro que é a primeira vez que uma caravana de ativistas não violentos chega em Kiev, e também nos sentimos muito esperados por todos, abraçados. Nós também queríamos abraçá-los. O prefeito disse: agradecemos muito que vocês estejas aqui porque sabiam que não podemos garantir totalmente a segurança e que os mísseis também poderiam ter caído. Ele nos agradeceu, portanto, também de uma forma muito comovente. De fato, já vimos caminhos de pacificação, de solidariedade, de fraternidade serem postos em marcha.
Voltemos aos slogans da marcha: “More arms for hugs”, ou seja, "Mais braços para abraços" e “We are all Ukrainians. We are all Europeans” para "Somos todos ucranianos. Somos todos europeus"...
Jogamos sobre a ambivalência da palavra "armas" (que significa "braços"). Devo dizer que eles não levaram isso muito bem, tomaram isso como uma provocação, estou falando da sociedade civil, não de pessoas extremistas. Então, perceberam que indicava para um caminho viável. E hoje, quando entramos na sala das colunas da Prefeitura de Kiev, vimos também escritas com o símbolo da paz. São resultados surpreendentes. E a outra coisa é que eles têm essa atração pela Europa porque a veem como a pátria da liberdade e da democracia. Eles se sentem atraídos porque conheceram exatamente o contrário.
Quais são os programas agora?
Agora existem grupos de trabalho: sobre turismo, porque estamos vendo esta bela cidade e pensamos que o turismo pode ser um recurso importante para o depois, para a reconstrução. Há um grupo de trabalho sobre patrimônio cultural e outro sobre crianças traumatizadas, outro sobre democracia deliberativa, no qual estão muito interessados.
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