Etíopes deslocados no povoado de Hamdayet, próximo da fronteira com o Sudão Etíopes deslocados no povoado de Hamdayet, próximo da fronteira com o Sudão 

Ajuda sem distinção

“Médicos com a África CUAMM”, uma das principais organizações não governamentais italianas, para a promoção e proteção da saúde das populações africanas, lançou um projeto de assistência humanitária à população etíope, em colaboração com a Caritas italiana e etíope e a Echo, uma organização humanitária da União Europeia.

Por Enrico Casale, L'Osservatore Romano

A população do Tigré, região norte da Etiópia, vive há dois anos, sem alimentos e remédios, linhas de telecomunicações cortadas e pouco combustível. A guerra entre o exército federal, apoiado por grupos de milícias Amhara e da Eritreia, e os soldados da Frente Popular de Libertação do Tigré, colocou homens, mulheres, crianças e idosos à dura prova, privados de todo o essencial em uma vida normal. O balanço de dois anos de combate é terrível. Segundo dados das Nações Unidas, até agora as vítimas são cerca de 800 mil, entre militares e civis, e 2 milhões e meio de deslocados e refugiados, que escaparam de suas casas, em busca de maior segurança nas regiões vizinhas ou até no exterior.

Neste contexto difícil, “Médicos com a África CUAMM”, uma das principais organizações não governamentais italianas, para a promoção e proteção da saúde das populações africanas, lançou um projeto de assistência humanitária, em colaboração com a Caritas italiana e etíope e a Echo, uma organização humanitária da União Europeia.

 

O padre Dante Carraro, diretor da CUAMM, explica que “quando o bispo de Adigrat, dom Tesfay Medhin, falou-nos sobre a situação na região, pedindo para intervir, decidimos fazer alguma coisa. Atuamos na Etiópia, desde 1980, com o objetivo de melhorar o sistema no campo da saúde. Hoje, estamos presentes em Gambella, na zona oeste, em Wolisso, no centro, não muito distante de Addis Abeba, e em South Omo, no sul. Durante dez anos, trabalhamos em Adigrat, em um centro para pessoas com deficiência. Como CUAMM, não hesitamos em enfrentar as emergências: arregaçamos as mangas e tentamos encontrar soluções, com propostas concretas, começando com pequenas intervenções, mas essenciais, como a reconstrução de um Centro de Saúde e o fornecimento de medicamentos necessários”.

"Nosso apoio continuou, nos dois anos de conflito, apesar das grandes dificuldades de acesso no Tigré". Dos sete milhões de habitantes (70 por cento da população), estima-se que cinco milhões precisam de alimentos. O sistema de saúde local é quase inexistente e os agentes no campo da saúde estão em graves dificuldades. A Organização Mundial da Saúde (OMS) acha que, durante a guerra, apenas 22 por cento dos centros de saúde funcionaram. A população precisa de tudo, principalmente de comida e assistência sanitária.

A ajuda do CUAMM (Colégio Universitário de Aspirantes Médicos Missionários) concentrou-se em três centros de saúde, dirigidos por outras Congregações religiosas, em Adigrat, Adua e Macallè.

 

O representante do CUAMM, na Etiópia, Riccardo Buson, explicam que dão assistência aos Centros de Saúde com equipamentos, remédios, alimentos. "Essas estruturas devem ser dotadas de materiais necessários para seu melhor funcionamento. Até agora, no Tigré, assistimos 22.500 pessoas necessitadas, das quais mais de 50% são mulheres. Os combates na região tiveram grande impacto sobre os agentes da saúde: médicos, enfermeiros e técnicos não recebiam seus salários e não podiam sustentar suas famílias. Assim, corria-se o risco de desanimar ou buscar refúgio em outros lugares, causando desfalque ao serviço essencial da saúde."

A este respeito, Riccardo Buson acrescentou: “Decidimos apostar na formação, que, por um lado, permitiu melhorar a qualidade dos serviços prestados à população; por outro, ofereceu um salário digno aos agentes no campo da saúde, dando-lhes a possibilidade de continuar a trabalhar nas estruturas sanitárias e médicas".

As intervenções, realizadas totalmente por etíopes, tem um caráter puramente humanitário e vai além das divisões políticas e étnicas, que desencadearam o conflito.

O representante do Cuamm na Etiópia, recorda ainda, que "a história dos Médicos com África fala de uma organização, que jamais fez discriminações diante das necessidades. Neste caso, ajudamos os habitantes do Tigré, mas também os da região de Amhara. Lançamos um projeto de intervenção na cidade de Berhan, onde se concentram milhares de deslocados, não só do Tigré, mas também de Oromia, região onde ocorreram conflitos nos últimos meses. Trabalhamos também em Kobo, uma cidade da região de Amhara”.

O acordo de cessar-fogo, assinado pelo Governo etíope e a Frente Popular de Libertação do Tigré abre novos horizontes para a intervenção humanitária.

O representante do CUAMM, na Etiópia, Riccardo Buson, conclui afirmando, que “nas últimas semanas, percebemos uma aceleração das ações humanitárias. As limitações impostas ao movimento e circulação de dinheiro foram levantadas. Agora, é possível aumentar a ajuda a outras unidades sanitárias. Somos, moderadamente, otimistas sobre o futuro. Esperemos que este ano de 2023 possa levar a paz à região".

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19 fevereiro 2023, 09:57