Campo de deslocados Rhoo IDP, 60 km de Bunia, capital da Província de Ituri, nordeste da RDC Campo de deslocados Rhoo IDP, 60 km de Bunia, capital da Província de Ituri, nordeste da RDC 

RD do Congo: os "3T" que exemplificam a exploração de recursos congoleses

"Depois da exploração política, desencadeou-se um «colonialismo económico» igualmente escravizador. Assim, largamente saqueado, este país não consegue beneficiar suficientemente dos seus recursos imensos: chegou-se ao paradoxo de os frutos da sua terra o tornarem «estrangeiro» para os próprios habitantes. O veneno da ganância tornou os seus diamantes ensanguentados. É um drama face ao qual, muitas vezes, o mundo economicamente mais desenvolvido fecha os olhos, os ouvidos e a boca", disse o Papa.

São os "3T" - cassiterita (estanho, "Tin" em inglês), volframite (tungstênio), coltan (tântalo) os principais recursos objetode predação no leste da República Democrática do Congo, segundo documentos das várias entidades da ONU, que há anos elabora relatórios sobre o assunto.

"A África não é uma mina para explorar, nem uma terra para saquear", reiterou o Papa Francisco em seu primeiro discurso em terras congolesas, dirigido às autoridades, sociedade civil e corpo diplomático, reunidos no Jardim do "Palais de la Nation" em Kinshasa.

Desde o início da colonização, iniciada por iniciativa privada de um soberano católico europeu, o rei da Bélgica, o Congo sempre foi visto sob esta ótica. Exploração que preocupava também os seus habitantes conforme denunciavam os cronistas da época, entre eles, o escritor estadunidense Mark Twain.

 

Uma exploração que continua, mas de uma forma mais sofisticada e diversificada. Como disse o ativista congolês dos direitos humanos Pierre Kabeza, a exploração dos recursos congoleses “pode ser descrita como uma árvore cujas raízes são as grandes potências do mundo, junto com suas multinacionais. O tronco da árvore são os países próximos da RDC (Ruanda e Uganda) que recebem a ajuda das grandes potências e por fim os ramos são os vários grupos guerrilheiros que operam em território congolês. A seiva que nutre a árvore são os interesses econômicos”.

No território, mais de 100 grupos que lutam pelo controle das três províncias do leste congolês (Norte e Sul Kivu e Ituri) cometem crimes contra a população civil para poderem explorar ilegalmente os recursos naturais. Além dos 3Ts, há ouro, diamantes, cobalto e cobre, mas também animais selvagens, carvão e madeira, além de cannabis. Mercadorias que são depois transferidas para o Ruanda, Burundi e Uganda e destes países para os mercados internacionais.

O andamento das operações militares dos vários grupos rebeldes (mas também do exército congolês, cujos departamentos não são estranhos ao tráfico ilegal) reflete o mapa dos recursos da área. Como assinala o último relatório enviado à Agência Fides pela Rede Paz para o Congo, o ressuscitado Movimento 23 de Março (M23) tem entre seus objetivos "manter o 'pequeno norte' de Kivu do Norte, ou seja, a cidade de Goma e os territórios de Nyiragongo, Rutchuru, Masisi e Walikale, muito ricos em minerais (ouro, coltan, cassiterita, cobalto), sob a influência econômica, militar e política do regime ruandês”. Motivo pelo qual, o M23 ocupou mais de 100 povoados na área de Rutchuru nas últimas semanas; em muitos deles estabeleceu uma administração paralela à do Estado, nomeando novas autarquias leais a ele e impondo impostos ilegais.

Por fim, são exploradas as pessoas, os mineiros, muitas vezes entre os 14 e os 25 anos, que realizam trabalhos de alto risco em locais perigosos, em condições difíceis, com risco de vida devido a deslizamentos de terra e doenças que poderiam ser evitadas se tivessem formas de proteção, ainda que mínimas. 

*Com Agência Fides

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01 fevereiro 2023, 11:38