Igreja como sacramento de unidade no mundo
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
Santo Agostinho chamou a Cristo de “sacramento de Deus” e São Cipriano chamou à Igreja o sacramento da unidade. Nesta mesma linha, padre Gerson Schmidt* dá continuidade a sua série de reflexões sobre a Igreja como um sacramento, falando hoje sobre "Igreja como sacramento de unidade no mundo":
"Como povo de Deus, incarnando permanentemente na história a salvação de toda a humanidade, a Igreja é o sacramento da unidade permanente da unidade de toda a humanidade, e de maneira implícita, da unidade de todo o mundo. Na Igreja se perpetua a salvação operada pelo sacrifício vicário ou sacrifício expiatório da Páscoa de Cristo. Sacrificio vigário é o sacrifício substituto de Jesus Cristo pelo pecado do homem na cruz. A Igreja traz em si esta natureza vicária (expiatória) que é esse sacrifício expiatório de Cristo na cruz pelos nossos pecados. Por isso, a Igreja é sacramentum mundi – sacramento do mundo é um tema permanente, na Lumen Gentium e na Constituição Gaudium et Spes.
O tema da Igreja como sacramento do mundo articula-se na autêntica tradição dos Padres (Santos Padres – Patrologia). A Igreja é o sacramento do Senhor glorificado, no qual toda a humanidade e todos os homens são postos no caminho da glória e da paz. Esta unidade e paz não se baseiam numa sociedade particular e humana, de uma construção simplesmente social e terrena. Essa união está incarnada em Cristo como homem novo, que através dele, se encontra sacramentalmente presente na Igreja. É uma unidade e paz em Cristo Ressuscitado. A unidade com Cristo, e através dele com o Pai, é a raiz, a fonte daquela unidade humana que tende para a paz universal.
A Constituição Lumen Gentium – sobre a natureza e a missão da Igreja – refere acertadamente a comunhão com Deus antes da comunhão com os homens entre si. Mas a unidade entre os homens revela essa comunhão com Deus, pedida insistentemente por Jesus na Oração Sacerdotal: “Pai, que todos sejam um”(Jo 17). Somente a união nascida em Deus traz consigo verdadeira unidade e paz para a humanidade e para o mundo. O amor ao próximo é presença de salvação quando incarna o amor de Deus que tomou forma humana em Cristo Jesus. E Cristo diz, na parábola do Juízo final, que quando amamos os pequenos e desprezados, amamos a Ele mesmo (Mt 25,31-46).
No Espírito de Cristo, a Igreja deve estar no mundo como a luz no candelabro, a cidade de Deus situada na montanha, para que todo o mundo e todo o gênero humano possa ver o que está a serviço de sua salvação e de sua paz. A Igreja não é simplesmente um sinal hasteado e erguido para anunciar ao mundo onde se deve procurar a verdadeira paz, que é Cristo. Mas a Igreja é o instrumento ativo desta paz na medida em que incarna o Reino da Paz que Cristo trouxe e dispensa nele, como príncipe da Paz, difundindo-se para fora de si mesma. A Igreja, por isso, não se limita a pregar o Reino de Deus, que se estabeleceria no mundo de uma maneira encoberta. A Igreja é instrumental na atuação sacramental da salvação. Dele estar no mundo, atuante nele, embora não sendo do mundo. Deve penetrar no mundo no poder do Espírito Santo que nela habita. É ativa na edificação da unidade do mundo enquanto prega a Cristo como “nossa paz, Ele que de dois povos fez um só, destruindo o muro da inimizade que os separava, abolindo na própria carne a lei, os preceitos e as prescrições”(Ef 2,14s). A Igreja é ativa nesse mundo na medida que está unida a Cristo, como esposa do Cordeiro que foi levado a morte para o bem de todo o homem."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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