Admirabile Signum do Papa Francisco
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
No final do Angelus do domingo, 1° de dezembro de 2019, o Papa Francisco anunciava aos fiéis reunidos na Praça São Pedro a ida à cidadezinha italiana de Greccio, de pouco mais de 1.500 habitantes, para a assinatura da Carta Apostólica Admirabile Signum sobre o significado e o valor do Presépio. Neste nosso espaço na primeira semana do Tempo do Advento, Pe. Gerson Schmidt*, inspirado neste documento pontíficio, nos fala sobre a tradição do Presépio:
"O capuchinho Frei Luiz Carlos Susi, falando sobre “O RITO EM QUE HABITAMOS: DIMENSÕES ANTROPOLÓGICAS DO RITO” no recente Congresso Teológico Litúrgico em Porto Alegre, dizia com bastante propriedade: “o ser humano ritualiza porque é corpo espiritual e se relaciona corporalmente, inclusive na sua condição espiritualmente mais alta, no nosso caso, na comunidade eucarística”. Jesus mesmo na Eucaristia diz: “Isto é o meu corpo”. É a partir dos sentidos corporais - ouvir, ver, tocar, sentir, saborear, doar, receber, acolher, nutrir-se, abraçar que o ser humano pode afetar-se espiritualmente e abrir-se a uma relação espiritual”.
Nesse contexto antropológico litúrgico, de símbolos e ritos, cabe aqui perfeitamente um comentário a respeito da mais recente assinatura da Carta Apostólica Admirabile Signum do Papa Francisco sobre o sentido e o significado do presépio nos nossos dias. Estamos no tempo do Advento, preparativo para o Natal. O presépio hoje é confeccionado e preparado, nesse tempo precioso das quatro semanas que antecedem o Natal, colocado em nossas casas, nossos ambientes de trabalho, no comércio, em nossas igrejas e comunidades, nos mais variados espaços e lugares do mundo inteiro, tornando mais visível esse gesto da encarnação do Verbo Divino no ventre da humanidade. Papa Francisco diz que “a encarnação de Jesus Cristo continua a ser o coração da revelação de Deus, mesmo quando facilmente se torna discreta a ponto de passar desapercebida. A pequenez é, de fato, o caminho para encontrar Deus."
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil está preparando o próximo Jubileu de 2025 e publica diversos cadernos, de linguagem acessível a todos, retomando os textos fundamentais do Concílio Ecumênico Vaticano II e o ensinamento dos Padres Conciliares (entenda-se os que participaram do Concilio Vaticano II). Os temas são justamente das quatro constituições Conciliares que aqui no nosso espaço MEMÓRIA HISTÓRICA estamos sempre aprofundando. No Caderno do Concilio número 13 – com o título OS TEMPOS FORTES DO ANO LITURGICO”, Edições CNBB, página 36, fala assim sobre o Tempo do Advento: “O Advento se caracteriza pela celebração desse movimento (ou seja, da primeira e segunda vinda de Cristo) e vivê-lo significa fazer um itinerário, um caminho que nos conduz àquele que vem: o termo adventos (do latim) de fato, indica a tensão dinâmica para com aquele que vem do futuro, que se torna presente no hoje, e que nos arrasta consigo”[1].
Papa Francisco nessa recente Carta Apostólica sobre o presépio fala da origem do Presépio, tal como nós o entendemos. Escreve assim o Sumo Pontífice: “A mente nos leva a Gréccio, na Valada de Rieti; aqui se deteve São Francisco, provavelmente quando vinha de Roma onde recebera, do Papa Honório III, a aprovação da sua Regra em 29 de novembro de 1223. Aquelas grutas, depois da sua viagem à Terra Santa, faziam-lhe lembrar de modo particular a paisagem de Belém. E é possível que, em Roma, o «Poverello» de Assis tenha ficado encantado com os mosaicos, na Basílica de Santa Maria Maior, que representam a natividade de Jesus e se encontram perto do lugar onde, segundo uma antiga tradição, se conservam precisamente as tábuas da manjedoura”. E continua Papa Francisco assim: “As Fontes Franciscanas narram, de forma detalhada, o que aconteceu em Gréccio. Quinze dias antes do Natal, Francisco de Assis chamou João, um homem daquela terra, para lhe pedir que o ajudasse a concretizar um desejo: «Quero representar o Menino nascido em Belém, para de algum modo ver com os olhos do corpo os incómodos que Ele padeceu pela falta das coisas necessárias a um recém-nascido, tendo sido reclinado na palha duma manjedoura, entre o boi e o burro». Mal acabara de o ouvir, o fiel amigo foi preparar, no lugar designado, tudo o que era necessário segundo o desejo do Santo. No dia 25 de dezembro, chegaram a Gréccio muitos frades, vindos de vários lados, e também homens e mulheres das casas da região, trazendo flores e tochas para iluminar aquela noite santa. Francisco, ao chegar, encontrou a manjedoura com palha, o boi e o burro. À vista da representação do Natal, as pessoas lá reunidas manifestaram uma alegria indescritível, como nunca tinham sentido antes. Depois o sacerdote celebrou solenemente a Eucaristia sobre a manjedoura, mostrando também deste modo a ligação que existe entre a Encarnação do Filho de Deus e a Eucaristia. Em Gréccio, naquela ocasião, não havia figuras; o Presépio foi formado e vivido pelos que estavam presentes”. A fonte bibliográfica que o Papa utiliza é de Tomás de Celano, Vita Prima, 85: Fontes Franciscanas, 469.
Desta força nasceu a nossa tradição do presépio, tão ricamente adornado pelos cristãos e que serve de uma rica catequese para as crianças, explicando os símbolos e personagens que ali se apresentam. “Todos à volta da gruta e repletos de alegria, sem qualquer distância entre o acontecimento que se realiza e as pessoas que participam no mistério”, afirma Papa Francisco."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] Cadernos do Concilio 13 – OS TEMPOS FORTES DO ANO LITURGICO, Edições CNBB, pg. 36.
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