A proclamação da verdadeira realidade: Cristo Ressurgiu, aleluia!
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
A Ressurreição de Jesus Cristo é o acontecimento culminante da Páscoa cristã, um momento de triunfo sobre a morte e de promessa de vida eterna, que não só marca o coração da fé cristã, mas também oferece uma fonte inesgotável de esperança e de renovação. "O mistério da ressurreição de Cristo é um acontecimento real, com manifestações historicamente verificadas, como atesta o Novo Testamento" (CIC 639).
Depois da série de programas dedicados ao Dia do Senhor, o Domingo, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão: "A proclamação da verdadeira realidade: Cristo Ressurgiu, aleluia!":
"O subsídio de número 12 - Cadernos do Concílio – preparação ao Ano Jubilar 2025 – afirma que o Tempo Pascal é um tempo de fraterna comunhão. “A comunidade cristã primitiva, no dia seguinte da ressurreição do Senhor, reúne-se na escuta da Palavra de vida e na partilha fraterna. Jesus ressuscitado educa os apóstolos, por meio das aparições, a compreender os novos sinais de sua presença no mundo. Ele, o Vivente, deixa-se tocar e partindo o pão, se mostra como o Bom Pastor, o Caminho, a Videira. Ao unir os irmãos no amor, tornando-os um só coração e uma só alma, Ele também apoia aqueles que se encontram nas adversidades da vida”.
Vivendo o ciclo litúrgico do Tempo Comum, a liturgia se volta aos atos costumeiros e não menos importantes da vida de Cristo. Cada acontecimento é único e irrepetível. Todos os acontecimentos de Jesus, do seu itinerário, devem ter o enfoque pascal, ou seja, de sua ressurreição dos mortos. O ciclo litúrgico não se repete, mas se atualiza com um vigor ainda maior e mais intenso, a cada ano, a cada liturgia vivenciada e celebrada em comunidade. Tal como um mesmo rio que atravessamos não há repetição ou mesmice, porque as águas antigas já se foram rio abaixo e nós não permanecemos os mesmos, tal é o ciclo pascal e o ano litúrgico, que é atualizado em nós e a na vida comunitária.
Um autor antigo, numa homilia, do ciclo bienal, no domingo In Albis (Divina Misericórdia), expõe assim: “O próprio nome da festa, se compreendermos seu verdadeiro significado, nos sugere sua peculiar excelência. Páscoa, com efeito, significa “passagem”, pois o anjo exterminador, que feria de morte os primogênitos dos egípcios, passava adiante, sem entrar nas casas dos hebreus. Todavia, em relação a nós, a passagem do exterminador é um fato, porque passou realmente sem nos tocar. A nós que, por Cristo, ressuscitamos para a vida eterna.
E o que significa, em seu sentido místico, o fato de se determinar como início do ano, o tempo em que se celebrava a Páscoa e a salvação dos primogênitos? Significa que também para nós o sacrifício da verdadeira Páscoa constitui o começo da vida eterna. Na verdade, o ano é símbolo da eternidade. Sendo a sua órbita circular, o ano gira continuamente sobre ela sem nunca parar. Mas Cristo, pai do mundo novo, oferecendo-se por nós em sacrifício, como que anulou a nossa existência anterior, proporcionando-nos, pelo batismo do novo nascimento, o começo de uma outra vida, à semelhança de sua morte e ressurreição. Por conseguinte, todo aquele que sabe ter Cristo se imolado como cordeiro pascal em seu benefício, deve aceitar como início de sua vida o momento em que Cristo se imolou por ele. Ora, tal imolação atualiza-se em cada um, quando reconhece essa graça e compreende que vida foi gerada por esse sacrifício. Quem chegou a esse conhecimento, esforce-se por aceitar o começo da vida nova, sem pretender voltar à vida antiga que foi ultrapassada. De fato, nós que já morremos para o pecado, pergunta o Apóstolo, como vamos continuar vivendo nele? (Rm 6,2)”[1].
A homilia pascal de um outro Autor antigo, no Ciclo Bienal da Segunda Leitura do Ofício das Leituras da Liturgia das Horas, na Segunda-feira da segunda semana da Páscoa, apresenta ainda o significa peculiar do sentido precioso do tempo pascal. As figuras provisórias passam, permanece o verdadeiro e definitivo. “A Páscoa que celebramos é causa de salvação para todo o gênero humano, a começar pelo primeiro homem, salvo e vivificado em cada um de nós. Mas a salvação foi preparada por diversas instituições, imperfeitas e provisórias, que eram símbolos e imagens das coisas perfeitas e eternas, para anunciarem em esboço a realidade que surge atualmente à plena luz da verdade. Contudo, uma vez que essa verdadeira realidade se tornou presente, a figura deixa de ter sentido. Quando chega o rei, ninguém irá homenagear sua estátua, deixando de lado a pessoa do próprio rei. Assim, vê-se claramente em que medida a figura é inferior à própria realidade, pois a figura representa a vida breve dos primogênitos dos judeus, ao passo que a realidade celebra a vida eterna de todos os homens. Não é grande coisa alguém livrar-se da morte por algum tempo, se pouco depois terá de morrer. O que é admirável é evitar a morte de uma vez para sempre, como aconteceu conosco por meio de Cristo, que foi imolado como nosso cordeiro pascal”[2].
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] Ciclo Bienal da Segunda Leitura do Ofício da Leituras da Liturgia das Horas, da Homilia pascal de um Autor antigo, Sermo in Pascha: PG 59,723-724, Segundo Domingo da Páscoa.
[2] Ciclo Bienal da Segunda Leitura do Ofício da Leituras da Liturgia das Horas, da Homilia pascal de um Autor antigo, Sermo in Pascha: PG 59,723-724, Segundo Domingo da Páscoa.
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